A manifestação dos oposicionistas gerou uma repreensão do presidente da casa, Augusto Santos Silva, dizendo que os deputados que quisessem permanecer na sessão plenária deveriam “se portar com urbanidade, cortesia e educação que é exigida de qualquer representante do povo português”. No entanto, os protestos continuaram até o plenário silenciar para a retomada do discurso de Lula e se repetiram diversas vezes depois ao longo da sessão. 6v2i47

Em um discurso lido, sem improvisos como ocorreu durante a participação no Fórum Empresarial Portugal-Brasil na segunda (24) em que criticou a taxa de juros e a privatização de empresas brasileiras, Lula citou a revolução de 25 de abril dizendo que o movimento foi assistido pelo Brasil para, anos depois, iniciar “nossa jornada rumo à reconquista da liberdade e da democracia”, em referência à ditadura instalada em 1964 e que terminou em 1985.

“Ainda assim, a democracia no Brasil viveu recentemente momentos de grave ameaça. Saudosos do autoritarismo tentaram atrasar nosso relógio em 50 anos e reverter as liberdades que conquistamos desde a transição democrática. Os ataques foram constantes. Os irmãos portugueses assistiram a tudo, preocupados com a possibilidade de que o Brasil desse as costas ao mundo”, disse em referência aos atos de 8 de janeiro.

Ao longo do discurso, Lula repetiu falas que tem feito em muitos dos eventos por onde a, como a "volta do Brasil" ao cenário internacional, proteção ao meio ambiente e transição energética, enfrentamento da crise climática, desenvolvimento sustentável, racismo, violência de gênero, entre outros.

Em paralelo, enquanto discursava na Assembleia da República, manifestantes faziam um protesto em Lisboa contra a presença de Lula no país. Cantando o hino português, empunhavam faixas e cartazes que mostravam os presidentes português e brasileiro se cumprimentando e a frase “tolerância zero à corrupção”, junto de bandeiras do partido oposicionista Chega, que registrou o protesto pelas redes sociais.

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"Ditadura dos algoritmos" e guerra na Ucrânia 475s4i

ProtestoManifestantes fizeram um protesto em Lisboa enquanto Lula discursava no parlamento português. (Foto: Twitter partido Chega/reprodução)

Em outro momento do discurso, Lula afirmou que o mundo “tem enfrentado múltiplas crises nas últimas duas décadas”, entre elas o “recrudescimento de ideologias extremistas, impulsionadas pela ditadura dos algoritmos”.

“Aqui na Europa, políticos demagogos que dizem não serem políticos, negam os benefícios conquistados no continente em décadas de paz, cooperação e desenvolvimento dentro da União Europeia. Eu considero a integração resultante da União Europeia um patrimônio democrático da humanidade. E eu vi no Brasil, a consequência trágica que sempre acontece quando se nega a política, se nega o diálogo”, mencionou.

“O Brasil compreende a apreensão causada pelo retorno da guerra à Europa. Condenamos a violação da integridade territorial da Ucrânia. Acreditamos em uma ordem internacional fundada no respeito ao Direito Internacional e na preservação das soberanias nacionais”, disse, citando a necessidade de diálogo e democracia.

Lula também retomou o antigo projeto de governo de fazer uma campanha pela “reforma que resulte na ampliação” do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Lula defendia um assento permanente do Brasil no colegiado que, segundo ele, “encontra-se praticamente paralisado” por não representar o atual contexto mundial daquele de quando foi criado, logo após o fim da Segunda Guerra Mundial.

Lula diz que está "empenhado" em avançar no acordo Mercosul-UE 1g3p47

Já ao fim do discurso no parlamento português, Lula disse que está empenhado no avanço do acordo entre o Mercosul e a União Europeia, em referência à negociação que mencionou recentemente estar nos “últimos ajustes”. E defendeu o ingresso da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa como membro-observador da Conferência Ibero-Americana.

Logo após a sessão na Assembleia da República, Lula seguiu para o Aeroporto Militar Figo Maduro para viajar a Madrid, na Espanha, onde vai se encontrar ainda nesta terça (25) com centrais sindicais e participar do encerramento do Fórum Empresarial Brasil-Espanha. Na quarta (26), terá encontros com o presidente do governo, Pedro Sánchez, e com o rei Felipe VI antes de retornar ao Brasil.

A viagem a Portugal durou cinco dias e teve a participação de 23 pessoas na comitiva presidencial. Além de Lula e da primeira-dama, viajaram também cinco ministros, quatro senadores, nove deputados e membros do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), da Embratur e da Apex Brasil.