“Vai depender fundamentalmente dele [de Lula], porque vai haver uma esquerda de um lado, [e do outro] uma direita que antes era uma direita envergonhada, as pessoas tinham vergonha de dizer que eram de direita. Hoje, muitos têm orgulho de dizer que são de direita, com posições firmes e contundentes. Então, pode haver uma polarização se não houver uma sabedoria na condução das ações de gestão”, disse em entrevista à Jovem Pan.

Para Lucas Fernandes, este será um dos principais desafios de Lula à frente da Presidência da República em seu terceiro mandato. Embora tenha um diálogo aberto com os governadores, enfrentará uma desconfiança ideológica sobre as decisões que tomar.

“Lula foi eleito presidente, mas com uma concentração muito grande de pessoas que não votaram nele. Ele chega ao Palácio do Planalto com a necessidade de abrir caminhos para ter uma governabilidade melhor e aumentar a popularidade, com uma relação mais pragmática com os estados”, diz. Segundo ele, São Paulo é um dos estados que mais pode se beneficiar dessa relação "pragmática", principalmente nos assuntos voltados às questões internacionais, que Lula já começou a sinalizar antes mesmo de tomar posse.

A relação com os governadores eleitos também a pelos partidos aos quais eles são filiados. A grande maioria faz parte do bloco conhecido como “Centrão”, que forma a atual base governista, mas tem um histórico de já ter feito parte de governos petistas também.

O cientista político Jefferson Oliveira Goulart afirma que a coligação liderada pelo PT ganhou 122 cadeiras na Câmara dos Deputados e que o partido já iniciou negociações com o Centrão, que terá ao menos 260 cadeiras na Casa a partir de 2023. Parte do MDB, por exemplo, já tinha embarcado na campanha de Lula, com a ex-presidenciável Simone Tebet sendo o expoente desse apoio. Além disso, presidentes do PSD, Gilberto Kassab, e do União Brasil, Luciano Bivar, já sinalizaram apoio a Lula.

Nos estados, partidos do Centrão – PSD, MDB, União Brasil e PSDB – elegeram 12 governadores.

“O Centrão representa uma fatia que combina elementos de fisiologismo político, pragmatismo e de conservadorismo, que revelou ao longo da história desde a redemocratização uma capacidade de adaptação com qualquer governo de qualquer orientação política e ideológica, com [José] Sarney (MDB), com Fernando Henrique Cardoso (PSDB), com Lula, com Bolsonaro”, afirma.

Demandas que Lula terá de lidar a partir de 2023

Entre as principais demandas que os estados levarão ao presidente eleito a partir de 1º de janeiro estão a questão dos impostos sobre o preço dos combustíveis, a necessidade de mais investimentos em infraestrutura estratégica, a reforma tributária, entre outras.

Uma das pautas a ser discutida num primeiro momento é a compensação da redução de alíquota do ICMS para os estados, que ainda não foi aprovada na atual legislatura. Posteriormente, segundo Fernandes, uma reforma tributária precisa ser melhor negociada com os estados – algo que vem sendo cada vez mais cobrado pelo setor produtivo.

“Principalmente quando a gente olha para a reforma ampla da PEC 110/2019 [que altera o sistema tributário nacional], ela tira algumas das prerrogativas dos estados e cria um imposto único. Na prática, isso tira um pouco da autonomia dos governos locais decidirem sobre suas próprias alíquotas”, diz o cientista político.

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