A ousadia de Lira e a autoconfiança inabalável de Lula, sem que este último tenha abandonado por completo o seu pragmatismo, foram os elementos definidores da dinâmica do jogo. Tal qual no pôquer, eles constantemente avaliam os riscos e benefícios das suas ações. Tanto Lula quanto Lira adotaram estratégias de curto prazo, porém, sempre com a visão voltada para o futuro, realizando concessões táticas momentâneas em busca de vantagens a longo prazo. Nesse sentido, o líder do Executivo está focado no êxito de seus planos de investimento público e de programas sociais, visando a manutenção de sua popularidade. 4d2p21

Além disso, a duração do mandato atual da presidência da Câmara, até 2024, também é um fator considerado, tornando a sucessão de Lira um ponto paralelo das negociações. O deputado almeja estabelecer seu sucessor no cargo, enquanto o presidente da República busca um indivíduo que esteja mais alinhado a ele no comando da Câmara. Independentemente das circunstâncias, os jogadores terão de mostrar adaptabilidade às mudanças e tomar decisões de maneira ágil.

Especialistas avaliam riscos de Lula continuar testando Lira 2i5x4f

Para Arthur Wittenberg, professor de políticas públicas do Ibmec-DF, a forma escolhida por Lula para jogar com Lira consumiu tempo valioso, dificultando cada vez mais a aprovação de questões estruturantes não só para o governo, mas também para o país. “Quanto mais o presidente dificulta negociações em torno de cargos ministeriais, menor fica a margem dele para aprovar matérias importantes no Congresso e, assim, colher os resultados políticos delas”, observou.

O especialista acredita que Lula tem prazo para articular politicamente o apoio dos parlamentares, mas se continuar esticando demais a corda, trará prejuízos para o seu mandato. “O mais comum é que as políticas públicas estruturantes gerem resultados ao longo dos anos. Por isso, o primeiro ano de governo é um período crítico para a montagem do governo e formação da base de apoio parlamentar. No Executivo, o arranjo está mais adiantado do que no Congresso”, frisou.

De qualquer maneira, Wittenberg acredita que Lula continuará cedendo à necessidade iminente de reorganizar sua relação com a Câmara. “A decisão de ceder ministérios pode desembaraçar a pauta de votações ainda este ano, proporcionando maior previsibilidade nas deliberações para os próximos dois anos”. O professor ressalta que o acerto de contas entre Legislativo e Executivo é algo especialmente crucial, tendo em vista que os anos eleitorais, como 2024 e 2026, sempre dificultam o encaminhamento de proposições complexas. “A reconfiguração ministerial no radar é vital para permitir ambiente político propício à obtenção de resultados significativos”, resumiu.

Próximo ponto de divergência está na execução do orçamento 292a2w

Na opinião de João Henrique Hummel Vieira, diretor da Action Relações Governamentais, o governo adentrou em uma fase delicada a poucos dias do fim do mês enquanto buscava ganhar mais tempo. A solução do ime relacionado ao comando dos ministérios é crucial, pois isso afeta diretamente o montante de recursos disponíveis no orçamento federal e a trajetória das políticas públicas nos próximos anos. No entanto, apesar da importância, as discussões não mostravam avanços substanciais sem a conclusão da negociação referente aos cargos.

A questão que surgiu nesse imbróglio mais recente, segundo Vieira, era se Arthur Lira teria mesmo coragem de não levar à votação o arcabouço fiscal, mesmo ciente das implicações, sendo a primeira delas colocar o governo em situação embaraçosa. Isso se tornou mais um teste para determinar quem tem de fato os votos necessários para aprovar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC). O especialista frisou que Lira não age individualmente, mas em nome do bloco do Centrão ao qual responde.

A dinâmica que emergiu do ime acaba por esclarecer quem detém o poder decisório, e uma nova abordagem pode ter surgido, a de que a eventual necessidade de apresentar uma nova PEC também está sujeita ao mesmo poder de aglutinação do presidente da Câmara.

“Embora o desfecho mais rápido seja do interesse geral, é evidente que os pontos de divergência em jogo estão longe de serem resolvidos. O próximo embate se refere à Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e ao próprio orçamento”, disse Vieira. Nesse ponto, ele acredita que a amplitude das emendas impositivas pode ser reforçada, o que gerará novos movimentos no pôquer político.