“Não é factível pensar no investimento público para recuperar a economia pelo simples fato que o investimento público demora a acontecer. Você não decide hoje fazer investimento público e amanhã tem uma obra acontecendo. Tem que fazer projetos, desapropriar terrenos, tirar licenciamento ambiental, etc. Isso demora pelo menos dois anos”, explica Marcos Mendes, consultor legislativo do Senado e ex-assessor especial dos ex-ministros da Fazenda Henrique Meirelles e Eduardo Guardia. 1z6h57
Mendes diz ainda que, caso o governo decidia aumentar o gasto público e, consequentemente, se endividar, a economia vai acabar se retraindo, ao invés de crescer. “Déficit público está muito grande. Hoje, se o governo aumentar a dívida pública, o que vai acontecer: vai ter um questionamento muito grande sobre a capacidade de o governo pagar a sua dívida pública, as taxas de juros de curto e longo prazo sobre a dívida pública vão aumentar, isso vai afetar as expectativas, o ambiente de incertezas vai aumentar e aí, ao invés de expandir a economia, vai retrair”, argumenta.
Professor de economia da Universidade de Brasília (UnB), Roberto Ellery também tem a mesma visão. “A gente não pode esquecer que foi o excesso de estímulo que botou a gente nessa crise. Então, a gente tem que se desintoxicar de estímulo”, diz o professor, ao se referir às políticas adotadas pelos governos petistas, que culminaram na recessão entre o fim de 2014 até 2016.
“Essa crise, se a epidemia crescer, não é uma questão de gasto público. As pessoas não estão deixando de sair para o restaurante porque está faltando renda. As pessoas estão com medo de pegar a doença. Então você vai estimular o que? Você vai querer que as pessoas saiam de casa?”
Ele diz, ainda, que o governo está correto em manter o compromisso com o ajuste fiscal. “O pior que pode acontecer para o Brasil agora é perder a credibilidade da política fiscal. Se isso acontecer, a gente volta rápido para o cenário pré-teto [de gastos], e o Banco Central vai ter que elevar juros para combater a inflação. Ninguém quer ir isso.”
Para Mendes, o que resta para o governo a médio e longo prazo é fazer reforma econômica. “A gente não pode confundir reforma econômica com ajuste fiscal. Reforma econômica é muito mais que ajuste fiscal. É abrir a economia, fazer privatização, fazer reforma tributária, melhorar o ambiente de negócio. O objetivo final de reforma econômica é tornar tanto o setor público quanto o setor privado mais produtivos.”