“O Bolsa Família vem perdendo não em número de beneficiários, que é o elemento novo, mas em termos de valor dos benefícios já desde 2015, inclusive. Desde o final de 2014, que foi o pico de atendimento do programa, você não recompôs inflação”, aponta Neri.

De fato, esses reajustes não chegaram a repor a inflação acumulada naqueles anos. Pelo IPCA, a inflação acumulada em 2014 foi de 6,41%, chegou a 10,67% em 2015 e voltou para 6,29% em 2016, nos valores anuais. O índice só caiu mesmo a partir de 2017.

Em contrapartida, o número de famílias também não diminuiu tanto assim no período. Em 2014, a média anual foi de 14 milhões de famílias beneficiadas pelo programa. Esse número chegou a cair para 13,5 milhões de famílias em 2016, mas, em virtude da recessão econômica, a quantidade de pessoas que precisaram do benefício aumentou e chegou a bater em 14 milhões novamente em 2018.

Em 2019, a média anual ficou em 13,5 milhões, mas com picos de atendimento de 14,5 milhões de famílias em um único mês e a volta da fila de espera para ingresso no programa, o que não ocorria desde 2017. Para o pesquisador, o Brasil ainda não chegou no momento de “diminuir” a amplitude do programa.

“Esse ajuste fiscal em cima dos mais pobres não resolve nada. Você aumenta a extrema pobreza, cria um problema sério, e atrapalha a própria macroeconomia, principalmente em regiões mais pobres em que a economia local depende desses benefícios também, não só as pessoas”, pondera o pesquisador.

O custo do Bolsa Família é bastante baixo para o governo – equivale a menos de 0,5% do PIB e vem se mantendo no patamar dos R$ 30 bilhões anuais. De acordo com a FV Social, o retorno econômico é mais interessante: para cada R$ 1 gasto com o Bolsa Família, são gerados R$ 1,78 para a economia brasileira. De acordo com a instituição, cada real gasto com o programa impacta três vezes mais o PIB do que benefícios da Previdência e 50% mais do que o BPC, voltado para idosos e pessoas com deficiência muito pobres.

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