Para o cientista político Leonardo Gabiati, diretor da Dominium Consultoria, o mais novo atrito entre Executivo e Congresso trará problemas no relacionamento entre os poderes. Mas ele descarta que a situação leve à ruptura. “Não há uma aliança de fato entre Pacheco e governo. Há convergências de interesses e, por isso, há diálogo. O presidente do Senado conversa mais com o Planalto e mostra-se mais disposto a negociar do que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL)”, explicou.

Gabiati avalia que Pacheco defende os próprios interesses e os da Casa que preside dentro de uma composição de senadores favorável à negociação com o governo. “São vínculos melhores que os da Câmara, mas que tendem a ficar mais complexos após a postura evidentemente crítica de Lula ao decidir judicializar algo que tem consenso muito amplo no Congresso”, disse.

O especialista ressalta que a via judicial não é politicamente ideal, mas institucionalmente possível, então é parte do jogo. “Por isso não a considero inabilidade do governo, mas sinal grave de divergência com o Congresso na questão fiscal, exigindo ainda mais diálogo”.

Enquanto isso, Lula segue com problemas na articulação política e teme ser derrotado novamente numa sessão do Congresso, que vem sendo adiada desde o começo do ano legislativo e que agora está prevista para a próxima semana. O petista pode ver derrubado o veto de R$ 5,6 bilhões para emendas parlamentares de comissão no Orçamento deste ano.

A contradição entre governo de esquerda e Legislativo de maioria conservadora produz fatos que reforçam a tese do semipresidencialismo. E a aposta do presidente da República numa aliança entre Executivo e STF para domar o Congresso só amplia esse desgaste. Se a cada derrota em votações apelar à inconstitucionalidade das decisões dos parlamentares, o Legislativo pode evocar a palavra final que tem sobre a continuidade no cargo dos chefes de governo e de ministros de tribunais superiores.

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O futuro político de Pacheco está em jogo

De acordo com o cientista político André Rosa, professor de Ciência Política na UDF, a ascensão meteórica de Pacheco na política indica sua habilidade como articulador nos bastidores, o que ficou mais evidente quando ocupou os cargos de presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, como deputado de primeiro mandato, e, depois, de presidente do Senado, também como estreante.

Ele chegou a ser cogitado para disputar a presidência da República, sem que o padrinho da ideia, Gilberto Kassab, presidente do PSD, tivesse conseguido levá-la adiante com um quadro nacional ainda muito polarizado.

“Agora, especula-se que este habilidoso articulador, conhecido por seu tom diplomático e moderado, possa ser o candidato ao governo de Minas Gerais com apoio do Planalto, desafiando o indicado de Romeu Zema (Novo) para assumir o comando do segundo maior colégio eleitoral do país”, destacou.

As disputas ainda estão longe de ocorrer e serão reavaliadas com base em um cenário mais claro para 2026. “Esse contexto dependerá da situação econômica e da popularidade do governo atual, fatores essenciais para possível mudança de curso”, sublinhou.

Na construção de um palanque comum em Minas Gerais para Lula e Pacheco em 2026, o presidente do Senado, o presidente da República e o ministro Haddad se juntaram para pressionar Zema a acatar termos de uma renegociação da pesada dívida do estado com a União, explorando dividendos políticos desse ime.

Rosa entende que Pacheco, como ainda jovem político, de 47 anos, tem potencial para alçar voos mais altos. Mas isso depende essencialmente da manutenção de sua base de apoio, mais ligada à centro-direita e muito abalada por suas posições que desagradam o eleitorado e os grupos políticos mais ligados ao governo anterior, de Jair Bolsonaro (PL). “Se não viabilizar essa pré-condição, ele corre o risco de virar mais uma promessa política perdida, a exemplo do ex-governador paulista João Doria (PSDB)”, finalizou.

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