"Depois da eleição o partido se unifica"

Pedro Lupion reconhece que o DEM hoje é um partido dividido. O deputado apoia Arthur Lira (PP-AL) na corrida pelo comando da Câmara. O alagoano é o candidato "oficial" do governo Bolsonaro, e tem como principal adversário Baleia Rossi (MDB-SP), nome referendado por Rodrigo Maia.

Segundo Lupion, a maior parte da bancada deve votar em Lira, contrariando Maia. Para ele, porém, a divisão se encerra quando acabar o período da disputa pelo comando da Câmara. "Depois da eleição, o partido se unifica."

Presidente estadual do DEM no Rio, o vereador César Maia descarta a ideia de que a sigla tenha alas diferentes e vê o partido como "pacificado há muitos anos". Maia, entretanto, faz um juízo sobre o futuro do DEM que contraria segmentos do partido: "O DEM é oposição. Terá candidato [a presidente] ou apoiará quem assim for".

A ideia de uma candidatura presidencial em 2022, que naturalmente disputaria com Bolsonaro, é defendida pelo ex-deputado federal Pauderney Avelino, presidente do DEM do Amazonas. "A ideia inicial é ter uma candidatura própria. Mas nós estamos ainda construindo isso. Não estamos falando de nomes, mas teríamos alguns para apresentar, como o ex-prefeito ACM Neto, o Rodrigo Maia e o ex-ministro Mandetta", diz.

ACM Neto é o presidente nacional do partido. Ele deixou recentemente a prefeitura de Salvador (BA), que comandou entre 2013 e 2020. Seus altos índices de aprovação o credenciam como pré-candidato ao governo da Bahia, que em 2022 escolherá o sucessor de Rui Costa (PT). ACM Neto já iniciou viagens pelo estado. Mas, publicamente, diz que ainda é cedo para tomar decisão sobre uma candidatura. O ex-prefeito também evita comentários sobre a situação nacional.

Na segunda-feira (25), ACM Neto se encontrou com Arthur Lira em Salvador. Rodrigo Maia disse que o encontro serviria para que Neto, na condição de presidente do partido, reafirmasse o apoio da legenda a Baleia Rossi. Mas os cinco deputados federais do DEM da Bahia indicaram que votarão em Lira.

Governismo dividiu o DEM em 2011

O DEM hoje tem o presidente da Câmara, o do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), três governadores (em Goiás, Tocantins e Mato Grosso) e a prefeitura de quatro capitais (Rio de Janeiro, Florianópolis, Curitiba e Salvador). É também o partido de Rodrigo Pacheco (MG), um dos favoritos na eleição para a presidência do Senado.

A situação é bem distinta da vivida pelo partido na virada entre as décadas de 2000 e 2010. Na ocasião, o partido fazia oposição aos governos do PT e teve sua existência "ameaçada" pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: , que à época tinha altos índices de aprovação popular. "Precisamos extirpar o DEM da política brasileira", disse Lula em setembro de 2010.

O golpe mais forte para a legenda veio, porém, em 2011. Dissidentes deixaram a sigla para fundar o PSD. O novo partido foi encabeçado pelo então prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e por lideranças à época ligadas ao DEM, como a senadora Kátia Abreu (TO) e o governador Raimundo Colombo (SC). O episódio fez o DEM cair de 43 deputados federais na eleição de 2010 para 21 em 2014.

Um dos motivos que levou o grupo de dissidentes a deixar o DEM foi a postura de oposição da sigla às gestões petistas. Kassab e outros membros tinham o interesse de integrar a base do governo recém-iniciado de Dilma Rousseff. O ex-prefeito paulistano e a senadora Kátia Abreu acabariam se tornando ministros de Dilma, assim como o ex-vice-governador paulista Guilherme Afif Domingos.

Hoje, o PSD também reúne quadros favoráveis e contrários ao governo Bolsonaro. Entre os defensores estão os deputados federais Éder Mauro (PA) e Sargento Fahur (PR). Do lado dos críticos estão o senador Otto Alencar (BA) e o deputado Fábio Trad (MS).

VEJA TAMBÉM: