A bancada evangélica viu um raro momento de disputa interna no fim de 2020 e começo de 2021. Mas isso não refletiu no apoio maciço do grupo a Lira. 3p5u5v
No momento de definir o novo coordenador da Frente Parlamentar Evangélica, que assumiria a função no lugar de Silas Câmara (Republicanos-AM), dois nomes se apresentaram e não propam deixar a disputa em favor de uma unidade do grupo: Cezinha de Madureira e Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ). A escolha do presidente do grupo, que habitualmente é feita por aclamação, por pouco não foi definida no voto a voto. Os deputados se pacificaram e definiram que Madureira será o presidente ao longo de 2021 e Cavalcante assume em 2022. Tradicionalmente, o "mandato" é de dois anos.
A disputa, porém, não progrediu – ao menos no que se refere à eleição interna da Câmara. A nota oficial sobre o apoio a Lira relata que a posição do grupo foi tomada "com raríssimas exceções dentro da nossa frente".
Membro do grupo, o deputado Marco Feliciano (Republicanos-SP) é mais enfático: "95% dos parlamentares evangélicos votarão no Arthur". Feliciano faz a ressalva de que o voto é secreto. Mas diz que "os compromissos de Baleia com a esquerda facilitam o convencimento".
A questão do voto secreto é um fator que colabora para que o apoio dos evangélicos a Lira possa ser superior ao que a frente indica "no papel". Isso porque parte dos deputados que integram a bancada está em partidos que, em tese, dão sustentação à candidatura de Baleia Rossi.
Um exemplo é o futuro presidente do grupo, Sóstenes Cavalcante. Ele é do DEM, mesmo partido de Rodrigo Maia, que lidera a campanha de Baleia Rossi. Mas o parlamentar não manifestou apoio a nenhuma candidatura até o momento. Cavalcante é um governista convicto – em postagem recente nas redes sociais, chamou de "mimimi da esquerdalha " a ideia de impeachment de Bolsonaro.
E mesmo fora do ambiente do "voto secreto" algumas defecções de dentro da bancada evangélica já se apresentam a favor de Lira. Uma delas veio da deputada Daniela do Waguinho (MDB-RJ), que declarou voto no alagoano.
O posicionamento da parlamentar gerou uma guerra de notas de repúdio. A primeira veio do MDB Mulher. O segmento feminino do partido da deputada disse que o posicionamento de Daniela "desrespeita todas as mulheres". "Nós, do MDB Mulher, repudiamos o apoio a um candidato que não respeita os direitos da mulher e tem um ado sombrio de agressões", diz trecho do comunicado. O texto do MDB Mulher faz referência à acusação de violência doméstica que paira sobre Lira.
Em resposta, um grupo de deputadas de 10 partidos (PP, PL, Solidariedade, PSL, Republicanos, Avante, Pros, PTB, PSB e PSDB) publicou uma nota chamando o posicionamento do MDB Mulher de "assédio político" e disse que o texto cerceava a liberdade de escolha de Daniela. As deputadas citam também o caso de Liziane Bayer (PSB-RS), que é igualmente apoiadora da candidatura de Lira.
A Frente Parlamentar Evangélica é hoje composta por 105 deputados federais e 15 senadores. O grupo tem ampliado seu tamanho e sua relevância no Congresso nos últimos anos. Em 2015, foi decisivo para a vitória de Eduardo Cunha (MDB-RJ) para a presidência da Câmara. Cunha é evangélico.
Os membros da bancada promoviam – em tempos de normalidade, fora da época da pandemia do coronavírus – cultos semanais na Câmara, que são frequentados por parlamentares e também por servidores da Casa. A deputada Benedita da Silva (PT-RJ) costuma participar dos encontros, mas não vota de modo similar ao grupo.
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