
Em Serranópolis do Iguaçu, a reprovação é zero. Não há justificativa para a reprovação, segundo Hippler. “Se o aluno veio o ano inteiro e se frequentou o contraturno, não posso dar de ‘presente’ para ele a reprovação no fim do ano”, analisa. “Se o aluno não aprendeu, a culpa não é dele, é do município”, afirma o secretário. Para ele, é importante ter em mente que nem todos vão aprender 100%. “Temos que trabalhar os 100% de cada aluno, ver que ele está dando o seu máximo”.
A liderança no Ideb não é novidade para Serranópolis do Iguaçu. As notas são boas desde 2005 e o município foi o primeiro colocado nos anos de 2013, 2015, 2017 e 2021.
Durante a pandemia, os esforços foram redobrados para garantir a continuidade dos estudos e evitar perdas. “As crianças ficaram em casa, teve ensino remoto. Nossos professores atendiam os alunos e os pais por telefone. Muitas vezes os professores mandavam um vídeo específico para solucionar a dúvida de um determinado aluno, com um atendimento bastante personalizado”, lembra o secretário.
Pequeno, o município tem uma única escola na rede municipal, com 300 alunos do 1º ao 5º ano. No total, a população é de 4.460 habitantes.
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“Em 2009, quando iniciamos o trabalho aqui, o nosso resultado no Ideb era constrangedor. Tivemos naquele ano nota de 3,8 na média do município, com uma escola chegando a 3,3”, lembra Ivonete Terezinha Carniato Harada, secretária municipal de Educação de São Pedro do Ivaí, o segundo colocado do Paraná no Ideb, com 8,2. Foi com ações voltadas ao que ela chama de ‘chão de sala de aula’ que a cidade conseguiu reverter a situação em pouco mais de uma década.
Um dos primeiros problemas atacados foi a alta rotatividade dos professores. “Ajustamos para que não houvesse mais. Investimos na formação contínua dos professores, estabelecendo o perfil de educadores para cada fase do aprendizado”, explica. Dessa forma, segundo ela, aqueles que haviam feito a formação em alfabetização e letramento ficaram nos primeiros anos, enquanto os especialistas em autores, leitura e escrita ficaram com os alunos de 4º e 5º anos. Assim, foi estimulado o hábito da leitura, inclusive com a garantia do tempo específico para essa atividade dentro da grade curricular.
Ivonete diz que o resultado de 8,2 que veio no último Ideb, referente ao ano de 2021, já era esperado em 2019. “Mas, naquele ano acabamos recebendo apenas 6,9, o que foi bastante frustrante”, lembra. O trabalho acabou sendo intensificado.
A estratégia na pandemia também foi importante. "A secretaria não fechou as portas. Os alunos ficaram em casa, com aulas remotas, e nós imprimíamos o material didático e levávamos na casa de cada um, levávamos também o livro que tinham que ler e devolver com um trabalho escrito e a merenda escolar, porque com fome ninguém aprende”, conta.
Além disso, os professores faziam vídeos explicativos e enviavam aos alunos de acordo com as dúvidas específicas. O fato de ser um município pequeno ajudou porque todos se conhecem, mas em São Pedro do Ivaí há 65 alunos, do total de 991, que vivem no meio rural. “Os pais desses alunos, que moram mais distantes, não tinham condições de vir à secretaria buscar o material, tínhamos que levar até eles”. Ela destaca também a grande participação das famílias, que já é comum no município e que foi decisiva na pandemia. O município tem seis escolas do 1º ao 5º ano.
Os municípios que tiveram desempenho ruim já estão se mobilizando para que o próximo Ideb venha com resultados melhores. Jacarezinho, no Norte Pioneiro, teve a menor nota na rede pública municipal no Paraná: 4,1. “Nosso Ideb não vem bem há muito tempo, aqui a educação foi esquecida. Em relação a investimentos, nunca teve nada além do que o obrigatório”, lamenta a secretária da Educação, Patrícia Martoni. “Outros municípios investiram em professores, em estrutura”, observa. Na pesquisa anterior, em 2019, Jacarezinho teve 5,1 no Ideb.
Patrícia, que assumiu a secretaria durante a pandemia, conta que o resultado, que já havia sido ruim em 2019, piorou em parte porque no dia da aplicação da prova choveu, muitos alunos faltaram, e apenas 5 das 10 escolas municipais participaram do teste, o que acabou impactando o resultado final.
Segundo ela, alguns dos problemas que atrapalham o desempenho da educação no município são salas lotadas, baixo investimento, estrutura inadequada e pais pouco participativos. “Agora estamos iniciando um trabalho para reverter esse quadro”, informa, acrescentando que enquanto os governantes não colocarem a educação como prioridade a situação não vai melhorar.
“A arrecadação do município de Jacarezinho é ótima, sempre com superávit. No ano ado a prefeitura investiu em pavimentação, agora temos o compromisso de que o investimento será em educação”, diz, acreditando que o próximo Ideb virá melhor. “Muitos outros municípios já têm esse olhar para a educação. Por isso têm resultados satisfatórios”, pontua. Jacarezinho tem 10 escolas municipais com 2.800 alunos de 1º ao 5º ano.
Para a secretária municipal de Educação de Congonhinhas, Anna Gabriella Furlanetto Coelho, a prova do Ideb não deveria ter sido aplicada em 2021, "já que o aprendizado foi comprometido pela pandemia". Depois de Jacarezinho, Congonhinhas foi o que teve a menor nota no Paraná: 4,4. Localizado também no Norte Pioneiro, o município tem 8.896 habitantes. São cinco escolas públicas municipais, com 550 alunos do 1º ao 5º ano.
Na pesquisa anterior, realizada em 2019 e divulgada em 2020, o Ideb de Congonhinhas foi de 4,7. A secretária, que assumiu a pasta no começo de 2021, conta que estratégias já começaram a ser adotadas para mudar a situação. "Estamos investindo na capacitação dos professores, em equipe multidisciplinar com psicólogos, psicomotricistas, psicopedagogos, fonoaudiólogos e assistentes sociais. Já fizemos o planejamento e estamos fazendo as intervenções na prática", diz. "O resultado é demorado, mas na próxima prova já vai ser possível perceber alguma mudança", acredita.
A extensa área rural do município é um desafio. "Metade dos nossos alunos são do meio rural, não têm o à internet", observa. Segundo a secretária, durante a pandemia, eram feitas apostilas e entregues para os pais que iam buscar a cada 15 dias. Anna Coelho afirma que é comum as famílias terem 3 ou 4 filhos e apenas um aparelho de celular, o que dificultou o acompanhamento durante a pandemia. “É um caminho longo para podermos recuperar, mas estamos fazendo todos os esforços”, destaca.