Paraná: maior safra da história 4c571h
O Paraná, segundo maior produtor de cereal do Brasil, deverá colher a maior safra da história: 4,5 milhões de toneladas de trigo, segundo o Departamento de Economia Rural (Deral). Em 2022, o estado produziu cerca de 3,8 milhões de toneladas. “O Paraná teve uma ótima safra em 2022 e, mais uma vez, tudo se desenha para uma colheita histórica se as condições climáticas permitirem”, comentou o secretário de Estado de Agricultura, Norberto Ortigara.
“O trigo ou a ser menos atrativo ao produtor nas últimas décadas, com baixa cotação e falta de política de incentivo. Precisamos de ações para mantermos as plantações”, acrescentou.
Ortigara ainda lembra que, na última década, se tornou mais vantajosa a importação, tanto pelo preço quanto pela qualidade do produto, situação que se inverteu nos últimos três anos.
“A cotação do cereal como de outras comodities subiu muito nos últimos anos por conta da pandemia de covid-19 e a guerra entre Rússia e Ucrânia. Internamente tivemos muitas pesquisas (pela Embrapa) que resultaram em um trigo de excelente qualidade”, explicou.
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Com uma produção maior, a acomodação dos preços no mercado internacional e a desvalorização cambial, o custo de produção diminuiu, mas a cotação caiu, expressivamente, nos últimos meses. “O custo de produção recuou 38% e a saca reduziu 40%. Tínhamos o trigo sendo comercializado a mais de R$ 100, há alguns meses, e agora está na casa dos R$ 60”, lembrou o coordenador da Câmara Técnica do Trigo no RS, Tarcísio José Minetto.
Outro fator de atenção, em médio prazo, fica por conta da influência climática do El Niño. “Como fator negativo, o El Niño possibilita chuvas mais acentuadas previstas para a época de colheita desses grãos”, ponderou o diretor técnico da Emater/RS, Claudinei Baldissera. A colheita se inicia em setembro, quando aumenta a chance de precipitações mais frequentes no Sul do Brasil.
Se por um lado o Rio Grande do Sul mantém a tradição na produção do trigo, o Paraná perdeu a vocação do cultivo nas últimas décadas, lembra o secretário Norberto Ortigara.
No início da década, em 2010, o estado chegou a cultivar cerca de 200 mil hectares, por anos, lavouras consideradas inexpressivas considerando o potencial produtivo. Neste ano, foram destinados 1,39 milhão de hectares às lavouras, o que resgata o protagonismo paranaense no cultivo do grão.
Na avaliação dos produtores, o cenário de cultivo no Paraná mudou, favoravelmente, ao trigo por necessidade, para não deixar grandes áreas em pousio, período em que terra "descansa" do cultivo.
Em janeiro e fevereiro deste ano, o atraso no ciclo resultou em um prolongamento para maturação das lavouras de soja no Paraná, retardando a colheita da oleaginosa. Isso fez com que muitos produtores que cultivariam a segunda safra de milho perdessem os prazos do zoneamento agrícola. Fora do calendário, além de os riscos serem maiores diante da possibilidade de geadas em uma cultura bastante suscetível ao clima, os prejuízos financeiros podem ser onerosos com lavouras descobertas de seguros, por exemplo.
“Então, sem conseguir plantar milho, parte dos produtores paranaenses migrou para o trigo. Não é uma primeira opção, mas acaba sendo uma boa escolha para rotação de cultura”, explicou o analista de Trigo do Deral, o agrônomo Carlos Hugo Godinho.
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A Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo) trabalha com uma expectativa de produção de 9,7 milhões de toneladas.
O presidente executivo da associação, Rubens Barbosa, acredita que o Brasil precisará de um pouco mais de tempo para se tornar autossuficiente, em torno de cinco anos ou mais, mas reconhece o avanço produtivo e de qualidade do cereal brasileiro. “Nosso trigo tem sido bem absorvido pela indústria e nos últimos anos melhorou muito de qualidade, mas por enquanto não vamos deixar de importar”, reforçou.
A associação calcula que mesmo que a estimativa de 2023 seja confirmada, o Brasil ainda precisará importar aproximadamente 5 milhões de toneladas do cereal.
Com uma dependência menor, mas ainda necessária, o Brasil acompanha o cenário internacional e um sinal de alerta apontou para a Rússia que, nesta semana, decidiu suspender o acordo que permitia a exportação de grãos da Ucrânia. O economista Rui São Pedro lembrou que a Ucrânia está entre os maiores exportadores do mundo de trigo, inclusive para o Brasil, e que reflexos foram imediatos. “Teremos de observar os próximos movimentos, mas já houve um aumento do preço no mercado internacional no dia em que a Rússia tomou a decisão de bloquear as exportações da Ucrânia”, concluiu.
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