Há um dilema que impera nos setores elétrico e automotivo sobre a área que deve dar o impulso inicial para que a mobilidade elétrica deslanche de vez no Brasil. Enquanto não houver infraestrutura para abastecimento, não haverá veículos elétricos. Ao mesmo tempo, não se investirá nessa infraestrutura se não houver demanda.
Do lado das distribuidoras de energia, a Copel lidera uma iniciativa para instalar dezenas de eletropostos ao longo de toda a extensão da BR-101, que liga o Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte, em parceria com outras concessionárias do setor. O projeto deve ser submetido à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para desenvolvimento no âmbito da chamada estratégica de projetos de pesquisa e desenvolvimento sobre mobilidade elétrica, lançada no dia 10 de abril.
Experiência para isso a Copel obteve com a instalação de 11 postos de recarga ao longo dos 730 km da BR-277 que ligam Paranaguá, no litoral do Paraná, a Foz do Iguaçu, no Oeste. Como a intenção era que os eletropostos fizessem recarga rápida (abastecimento de 80% da bateria em até 30 minutos), foram necessárias adaptações para a realidade local, explica Julio Omori, superintendente de Smart Grid e Projetos Especiais da companhia. “O projeto mostrou que era necessária uma alimentação exclusiva, uma demanda que chega ao limite da baixa tensão”, conta. Enquanto o padrão da rede de distribuição do Paraná varia entre 127 e 220 volts, a recarga rápida de um veículo elétrico exige um mínimo de 380 volts.
Mais do que isso, o desafio foi identificar locais que tivessem uma estrutura mínima para o motorista durante o abastecimento, com cobertura e opção de alimentação, por exemplo, uma vez que o tempo de recarga é muito superior ao do abastecimento de combustível fóssil. Após a identificação dos pontos, realizada em parceria com o Lactec, os postos foram instalados a distâncias médias de 100 km para dar conforto ao usuário de carro elétrico, cuja autonomia média é de aproximadamente 200 km.
O carregamento de veículos em casa já é possível com a utilização de adaptadores, porém em sistema de recarga lenta. Estudos conduzidos na Copel mostram que a rede de distribuição aria um crescimento imediato de até 700% da frota de veículos elétricos no Paraná, segundo Omori. De acordo com o Departamento Estadual de Trânsito (Detran), há hoje 275 veículos elétricos emplacados no estado.
“O grande problema hoje são os padrões de instalação elétrica dos condomínios residenciais, que em muitos casos não são adequados para ar o crescimento da demanda”, diz o engenheiro da Copel. A concessionária desenvolve ações de sensibilização com o setor de engenharia e de construção civil para estabelecer diretrizes para instalação de pontos de recarga em estacionamentos de novas habitações de uso coletivo.
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Entre outras tecnologias em desenvolvimento no Paraná, destacam-se o primeiro caminhão elétrico da América Latina, criado em uma parceria da Itaipu com a Iveco, lançado em 2009; o primeiro ônibus 100% elétrico do país e o primeiro ônibus híbrido, movido a eletricidade e a etanol, ambos desenvolvidos também no programa da binacional. Em 2015, em parceria com a ACS Aviation, de São José dos Campos, a Itaipu colocou no ar o primeiro avião elétrico tripulado da América Latina, em um voo realizado em pista na margem paraguaia da usina.
No Lactec já foram objetos de projetos de pesquisa e desenvolvimento eletropostos de recarga alternada para smart cities; soluções de localização por Internet das Coisas e até sistemas de infotainment para o usuário do veículo elétrico encontrar pontos de recarga, monitorar o consumo de bateria e outras variáveis internas do automóvel.
A presença no estado de montadoras de carros interessadas na nova tecnologia, como a Renault e a Nissan, em São José dos Pinhais, e de veículos pesados, como a Volvo, em Curitiba, contribui para consolidar o estado como polo de desenvolvimento tecnológico em mobilidade elétrica. Embora ainda não fabriquem modelos elétricos no estado, as empresas realizam estudos e testes em parceria com instituições de pesquisa. Além disso, startups como a Hitech Electric e a eiON ajudam na disseminação da tecnologia.
Já em 1981 um consórcio técnico formado por Copel e pelas empresas Invel (do grupo Marcopolo), Puma, Bardella e Lucas conduzia testes com o Eletron, um caminhão elétrico com capacidade para uma tonelada de carga, autonomia de 105 km e 80 km/h de velocidade máxima. O projeto foi descontinuado em razão do alto custo e do sucesso do Proálcool, programa que incentivava o uso do etanol no país.