“Toda a sociedade, quem usa e quem não usa, tem que pagar pela manutenção do transporte coletivo. Não estamos inventando nada, isso existe em outros lugares do mundo. É uma decisão que a sociedade precisa tomar. Esses recursos seriam destinados a um fundo nacional de infraestrutura do transporte coletivo e redistribuídos entre as empresas. Dessa forma, as empresas poderiam cobrar uma tarifa ível do usuário e a prestação do serviço seria remunerada adequadamente”, explicou. 83u27

À Gazeta do Povo, Cunha disse prever bastante resistência a essas ideias, tanto por parte dos governos (estaduais e federal), quanto por parte dos cidadãos que não usam o serviço e mesmo assim acabariam contribuindo para seu custeio. Mas essa, afirma o presidente executivo da NTU, é a única forma de evitar o “colapso iminente” do serviço de transporte coletivo em todo o país.

“A política tarifária tem que mudar. A pandemia mostrou isso com muita clareza. O setor não se sustenta mais pela tarifa paga pelo usuário. A permanecer esse modelo atual, todos esses serviços serão absorvidos pelo poder público, e só Deus nos dirá o que pode acontecer. Tem que ter fontes extra tarifárias para bancar esse serviço. Estamos oferecendo alternativas, mas certamente haverá resistência de todos os lados. Os governos não vão querer renunciar a parte desses impostos, e o cidadão não aguenta mais a carga tributária. Mas a sociedade precisa dar uma resposta para esse problema”, avaliou.

Em Curitiba, como apresentou o diretor-executivo do Setransp, Luiz Alberto Lenz César, a situação reflete a realidade de todo o país. Antes da pandemia, informou César, a capital tinha uma média de 760 mil ageiros por dia nos ônibus do transporte coletivo. Desde março de 2020 esse número caiu para 350 mil ageiros – uma queda de 54%. A frota de ônibus circulando na cidade também caiu, mas em um ritmo muito menor. No início da pandemia eram cerca de 1,2 mil veículos operando no sistema, contra aproximadamente 950 atualmente, uma queda de 21%.

“Com essa dificuldade que se tem com a queda no número de ageiros, estamos rodando com quase 100% da frota nos horários de pico. Nós temos que ter a remuneração justa. Não podemos ficar na situação de querer aumentar a tarifa para o usuário para fazer frente ao custeio do sistema. Não é por aí, nós defendemos uma tarifa módica. Porém, defendemos que o sistema tenha uma tarifa que faça frente à operação, o custeio e os investimentos”, disse o diretor do Setransp.

Parte dos custos das empresas de transporte coletivo de Curitiba vem sendo subsidiado pela prefeitura desde março do ano ado. O chamado Regime Emergencial de Operação e Custeio do Transporte Coletivo, que garante um aporte adicional de mais de R$ 100 milhões às empresas, foi prorrogado em dezembro e vale até o próximo dia 30 de junho. César disse esperar uma nova prorrogação, ainda mais porque segundo ele a situação do setor praticamente não mudou desde o ano ado.

“Temos a expectativa de que esse regime seja prorrogado. Entendemos que vai haver a continuidade do baixo número de ageiros, acreditamos que não vai haver mudanças a curto prazo. Estamos esperando uma mensagem por parte do poder público com uma tarifa que possa fazer frente a todo o custeio desse serviço. As empresas compraram mais de 530 ônibus desde 2017, mais de R$ 300 milhões. Agora, temos que arcar com esses financiamentos. O que estamos recebendo hoje não é suficiente para fazer frente a essas obrigações que temos junto aos bancos. A dificuldade é muito grande, o desafio é muito grande”, concluiu.