O novo comportamento do consumidor se reflete também no setor de alimentação. Dados da Sodexo Benefícios e Incentivos, empresa que istra serviços de vale refeição e alimentação, mostram que entre abril e junho o consumo em restaurantes migrou dos centros comerciais para bairros residenciais de Curitiba. Regiões como Centro, Água Verde, Rebouças e Centro Cívico tiveram uma queda de 61% no consumo, enquanto bairros como Santa Felicidade, Bairro Alto, Pilarzinho e Capão Raso registraram alta de 22%.
O diretor de estabelecimentos da Sodexo, Antonio Alberto Aguiar, explica que, como muitas pessoas aram a trabalhar em casa nesse período, buscaram restaurantes próximos às suas residências para almoçar. “Muitos desses restaurantes não trabalhavam com vale refeição e alimentação porque tinham um perfil diferente, de receber clientes para jantar ou mais no fim de semana. Eles viram a necessidade de se credenciar porque aram a receber uma clientela diferente, formada por trabalhadores”, afirma.
Outro fator que contribuiu para essa migração dos consumidores para os bairros foi, mais uma vez, o fechamento dos shopping centers nesse período. “As praças de alimentação são locais que, pela praticidade e pela variedade de opções, costumam atrair um volume grande de pessoas, principalmente trabalhadores. Hoje eles estão reabertos, mas com restrições e movimento ainda abaixo do normal”, observa Aguiar, reforçando a tendência de que uma parcela da população continue frequentando restaurantes dos bairros.
Para ele, isso abre uma nova oportunidade a esses estabelecimentos. “É um momento para apostar em novas modalidades, como delivery, take away, ajustar o cardápio, o tamanho das refeições... com bons ajustes para adequar à oferta, o empresário tem boas chances de conquistar clientes.”
A valorização do comércio local já era uma tendência que vinha sendo observada antes da pandemia, como revela o consultor do Sebrae-PR João Luis Moura. “Há algum tempo percebemos uma sensibilização forte dos consumidores em relação aos negócios locais, sejam eles do próprio bairro ou no contexto municipal. Com a pandemia, isso foi potencializado”, observa.
Quando o consumidor voltar a circular pela cidade ele terá mais opções, mas, por outro lado, terá criado um relacionamento com algumas empresas mais próximas. Muitas contam com ferramentas digitais, entregam em casa, têm preços atrativos. E a gente sempre prefere comprar de quem conhece, confia, então, esse vínculo tende a favorecer o comércio local daqui para frente
Rodrigo Rosalem, diretor de planejamento e gestão da Fecomércio-PR
Segundo João Luis, o comportamento do consumidor vai além de apenas comprar no próprio bairro ou contratar os serviços de uma empresa próxima. “As pessoas incentivam as outras a comprar, divulgam nas redes sociais, criam campanhas. Há um processo de empatia, que mobiliza toda uma cadeia”, ressalta. Um exemplo desse tipo de mobilização, que faz crer que o consumo regionalizado tende a se manter em alta no pós-pandemia, é a grande quantidade de grupos de prestadores de serviços em redes sociais. “São muitos os grupos voltados para bairros ou regiões específicas, que reúnem pessoas mais próximas e, com isso, buscam facilitar tanto para quem oferece o serviço quanto para quem contrata.”
Para os empreendedores, a recomendação do Sebrae é também valorizar o aspecto local. “É importante o empreendedor se apropriar um pouco mais das suas origens, evidenciar que o seu negócio tem uma ligação com o bairro, com a cidade. Deixar claro que ele está ajudando a economia local, afinal, não é apenas o seu negócio, tem os empregados, os fornecedores. Tudo isso favorece uma conexão emocional com os clientes, cria uma experiência de consumo”, orienta o consultor.