Indústria do Paraná sofre menos impactos da pandemia; mérito do setor de alimentos
“Os dados do IBGE são de 2020. Estamos falando do ano em que a pandemia de Covid-19 impactou todos os setores da economia”, lembra o economista. Segundo ele, apesar das dificuldades, a indústria do Paraná começou a se recuperar já na metade daquele ano e pode-se dizer que sofreu menos que outros estados, ou pelo menos teve impactos menores.
“Isso não é ocasional, é decorrência de um processo de consolidação da indústria que não vem de hoje”, pontua. Segundo o economista, o setor que mais contribuiu para segurar tanto a produção quanto a economia foi o de alimentos. Mas, ele acrescenta também as indústrias automotivas, metalmecânicas e de papel e celulose como chaves na conquista do bom posicionamento do Paraná no cenário nacional.
“A indústria de alimentos é muito forte no estado, é uma das que mais produz e mais emprega. E, ao contrário de alguns outros segmentos, a produção e o processamento de alimentos não pararam na pandemia”, lembra Alves. “O bom desempenho, mesmo em um ano difícil, revela a consolidação deste setor no Paraná, principalmente pela forte atuação no mercado externo”, pontua. O Paraná é o primeiro estado do Brasil em exportação de carne de frango e de peixe e o segundo em carne suína.
O setor alimentício responde por 36% do valor total da produção da indústria de transformação do Paraná. Tradicionalmente forte, a indústria alimentícia cresceu de forma expressiva na última década. Investimentos pesados foram feitos, em especial pelo setor cooperativista, que ampliou plantas agroindustriais existentes e investiu em novas, com destaque para a produção de proteína animal, sobretudo a carne de frango.
“O interior do Paraná de hoje é completamente diferente do que era 10 anos atrás. A transformação é fantástica”, destaca José Roberto Ricken, presidente da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar). Segundo ele, o planejamento das cooperativas prevê a agregação de valor à produção primária e isso se faz com a agroindústria. Ricken informa que 70% da demanda de investimentos do setor cooperativista paranaense (que chega a um total de R$ 6 bilhões ao ano) vêm de projetos de ampliação ou instalação de novas plantas agroindustriais e estruturas de armazenagem.
“Agregando valor, há mais chance de uma cooperativa se manter no mercado". afirma Ricken. A observação do presidente da Ocepar pode ser comprovada por uma pesquisa feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) no ano ado. O estudo revela que a cada R$ 1 investido na indústria, são gerados R$ 2,43 na economia brasileira. No setor agropecuário, o investimento de R$ 1 reverte em R$ 1,75 para a geração de riqueza e no setor de comércio e serviço, em R$ 1,49. "Ou seja, fica provado que investir em industrialização gera mais riqueza para o país", reforça o economista da Fiep, Marcelo Alves.
Ainda de acordo com o presidente da Ocepar, nos municípios onde tem agroindústria não tem desemprego. “Isso não era assim lá atrás. Foram as agroindústrias que mudaram este cenário”, informa. Segundo ele, o setor tem hoje cerca de 10 mil vagas abertas de emprego, em especial na região oeste do Paraná. “É muito comum as cooperativas terem que ir buscar trabalhadores nos municípios vizinhos e com isso acabam gerando emprego e movimentando a economia de toda a região, pontua Ricken. Além da geração de empregos nas plantas industriais, o crescimento do setor cooperativista impacta positivamente também o campo, já que 82% dos cooperados são pequenos agricultores com áreas inferiores a 100 hectares.
Os números da Ocepar evidenciam que as cooperativas paranaenses estão superando suas próprias metas. Juntas, elas faturavam R$ 50 bilhões em 2015. “O nosso planejamento previa dobrar esse valor em cinco anos, mas chegamos em 2020 com R$ 115 bilhões em faturamento. Em 2021, foram R$ 153 bilhões e em 2022, R$ 186 bilhões”, diz o presidente da entidade. “Sem delimitar um prazo, queríamos chegar a R$ 200 bilhões de faturamento e já estamos bem perto disso. Esse número deve ser alcançado neste ano de 2023”, acredita. Com isso, em julho a Ocepar vai lançar um novo planejamento com novas metas, informa o presidente.
O economista da Fiep destaca outros dois setores industriais que contribuíram para a liderança do Paraná no Sul e a terceira colocação no Brasil. São as indústrias automotivas e as de papel e celulose. No caso do setor automotivo, Marcelo Alves lembra que este foi o mais prejudicado pela pandemia no estado. Chegou a perder mais de 90% da atividade em determinado período com a paralisação de fábricas.
“Quando começaram a voltar, havia a dificuldade de o a insumos por conta do impacto da crise sanitária em todas as cadeias globais de suprimento do setor”, explica. “E depois, a guerra entre Rússia e Ucrânia, que também desarticulou as cadeias em todo o mundo”, acrescenta.
Mas, de acordo com o economista, este setor vem se fortalecendo no Paraná. Na década de 1970, a indústria automotiva do estado respondia por 0,15% da produção nacional. Em 2019, este índice estava em 15%.
E, em relação às indústrias de papel e celulose, o destaque fica por conta do retorno financeiro dos investimentos feitos nos últimos anos nos projetos Puma I e II, pela Klabin, uma das maiores do setor no país. A papeleira, que já era forte com o parque industrial de Telêmaco Borba (região dos Campos Gerais do Paraná), investiu nos novos projetos com a planta em Ortigueira, município na região central do estado.
O Puma I foi para dobrar a produção e o II foi o maior investimento da história da indústria, com novas máquinas que vão viabilizar a diversificação de produtos. Somados, os dois projetos totalizam investimentos de R$ 20,9 bilhões, de acordo com informações divulgadas pela empresa.
Com investimento de R$ 8 bilhões, o Puma I entrou em operação em 2016. E o Puma II, com R$ 12,9 bilhões investidos, começou a produzir em 2021, mas a implantação do projeto deve ser concluída neste ano de 2023.
Os resultados da primeira parte do investimento já refletiram no dado do IBGE de 2020, que mostram este setor contribuindo para a liderança da indústria do Paraná no Sul do Brasil. “Ainda vamos ver os principais reflexos desses investimentos”, sinaliza Marcelo Alves, da Fiep. Segundo ele, nos próximos anos os números deste setor, e por consequência da indústria do Paraná, só tendem a crescer.
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