
A galeria esteve sob a istração dele por menos de cinco anos, tempo suficiente para cravar uma marca eterna na história local. Entre os frequentadores estavam os artistas Fernando Velloso e Loio-Pérsio, por exemplo. Na época da abertura, seria realizada uma edição do Salão Paranaense em que a comissão julgadora demonstrou conservadorismo nas escolhas, deixando de fora obras de artistas com uma proposta mais moderna. A partir disso, foi feita uma espécie de exposição dos excluídos do Salão na Cocaco, o chamado “Salão dos Pré-julgados”.
Com ou sem Cocaco, Ennio prosseguiu para a carreira da istração pública voltada em especial à área cultural. Durante quase toda a década de 1960 foi diretor do Departamento de Cultura do governo Ney Braga. Deu início a essa nova vertente de atuação da família tradicional na política paranaense – o avô, João Cândido Ferreira, foi médico e presidente do estado e o pai, João Cândido Ferreira Filho, foi secretário da Agricultura. Inspirou-se no pai ao se formar engenheiro agrônomo. No início da década de 1970 teve um cargo na Secretaria de Agricultura do estado no departamento do então incipiente cooperativismo, que ele ajudaria a tornar um dos motivos de destaque do Paraná no Brasil e no mundo. Essa fase da carreira incluiu até uma viagem à Alemanha para captar o funcionamento do cooperativismo do outro lado do oceano.
Porém, o tino para produzir e fomentar a arte ainda era o que gritava mais do que tudo em suas veias. Mesmo nos desenhos de criança, como um datado de 1933, época em que ele e a família moravam em Jacarezinho (PR), é possível ver o talento de quem se tornaria um desenhista, pintor e crítico de arte prodigioso. O filho Paulo Marques Ferreira lembra da diversão que era para ele e as demais crianças da família participar dos vernissages de arte em casa, um ambiente de música e diversão para todos. Além de superintendente interino do Teatro Guaíra em 1968, Ennio foi presidente da Fundação Cultural de Curitiba entre 1976 e 1979 e em seguida coordenador do Setor de Artes Plásticas da Secretaria de Estado da Cultura e Esporte do Paraná.
Nos anos 1980 e 1990 foi um dos idealizadores e dirigiu o Museu de Artes do Paraná (MAP). Também dirigiu a Casa Andrade Muricy. Entre seus títulos, está o de Membro Honorário da Academia Paranaense de Letras, recebido em 2017 por sua importância para a cultura paranaense, e a Estrela da Solidariedade e Pesquisas Tecnológicas, concedida em 1969 pelo governo italiano por promover a cultura do país no Brasil ao criar o Festival Folclórico. “Ele era um vetor do que era produzido culturalmente aqui, digamos que ajudou a tirar Curitiba da imagem de cidade provinciana ao promover um movimento de vanguarda em especial nas artes plásticas”, comenta o filho Paulo.
Além de pioneiro da cultura e das expressões artísticas, Paulo destaca na personalidade do pai o respeito ao próximo. “Lembro de uma agem, quando eu era criança, de estarmos voltando para casa. Ele vê um senhor simples na beira da estrada e pergunta se precisava de algo. No fim, demos carona para ele e ajudamos, mesmo sendo uma pessoa desconhecida. Esse era o exemplo que tínhamos em casa”, conta.
Foi atleta na juventude, praticando salto em altura em Botafogo na época em que morou no Rio de Janeiro. Foi jogador de futebol amador em Curitiba com atuação no Atlético Paranaense. Nas horas vagas, gostava de eternizar imagens bonitas no formato de fotografias. Com sua Rolleiflex, fotografava paisagens, a família e amigos. Ennio deixa a esposa, Heloísa Maria de Sá e Silva Marques Ferreira, três filhos, cinco netos e um bisneto.
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