Ela comentou que, com a celebração do convênio com o Paraná, caberá à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) fazer toda a análise dos dados e protocolos do que chama de candidata a vacina, para autorizar a pesquisa clínica em território nacional, bem como, se aprovada nos testes, a transferência de tecnologia para a produção local. “Das informações que temos disponíveis, essa vacina ainda nem está na fase 3 da pesquisa clínica. Agora, a empresa estatal russa terá que fornecer todos os dados à Anvisa, como vai fornecer para a OMS. E a Anvisa é uma das agências mais rigorosas do mundo, participa de todos os nossos protocolos. É uma garantia de que a candidata a vacina será criteriosamente analisada”, diz.

Em 2021, só haverá vacina para 20% da população mundial

Liderando as discussões sobre vacina junto à OMS, Mariângela Simão lembrou que existem 160 candidatos a vacina em estudo no mundo, com diferentes tecnologias. “Há vacinas com plataformas mais tradicionais, como vírus atenuado ou vírus inativado, mas há, também estudos de plataformas nunca utilizadas para produzir vacina, como RNA mensageiro ou com alguns elementos virais. É importante que todos os estudos sigam rigorosamente os os definidos pela ciência ao longo de mais de 100 anos”, disse.

Dos 160 candidatos a vacina, 134 ainda estão em fase pré-clínica: estudos laboratoriais e testes em animais. “Destas, tradicionalmente, 10% tendem a avançar para a fase clínica”. Em fase clínica – testes em humanos – há 26 estudos. “A média é que 17% dos produtos de saúde em pesquisa clínica cheguem ao mercado”, aponta. As quatro pesquisas mais avançadas (duas americanas e duas chinesas) já aram pelas duas primeiras fases da pesquisa clínica, e estão na fase 3, que testa a segurança e a eficiência da vacina com aplicação em larga escala e com comparação com grupo de controle (voluntários que recebem placebo para comparar resultados). “Após a fase 3, com todos os estudos disponibilizados e analisados de forma transparente, você procede para o registro em uma autoridade regulatória”.

Fundo global tenta garantir distribuição equânime da futura vacina

A vice-diretora-geral da OMS relatou que trabalha, neste momento, para garantir que, uma vez que se tenha uma vacina aprovada, todos os países tenham o equitativo à imunização. “Temos uma quantidade considerável de vacinas sendo comprometidas pelo que chamam acordos bilaterais. Os Estados Unidos já compraram a metade de produção de 10 candidatos de vacina, comprometendo o mercado. União Europeia está indo para o mesmo caminho”, lamenta. Para tentar regular essa corrida pela vacina, a OMS está organizando um sistema global de vacinas. “É um mecanismo financeiro global, que reúne em um fundo, recursos financeiros de vários países para investir em um número maior de candidatos a vacina. Hoje são 167 países, financiando os 15 candidatos com os resultados mais promissores até o momento”, conta, comemorando a adesão do Brasil a este fundo.

“Estamos trabalhando nisso, porque temos certeza que, no ano que vem, não teremos vacina para vacinar todas as pessoas do mundo”, revela Mariângela, citando que, diante deste cenário, a OMS já definiu uma proposta de dar o à vacina a 20% da população de todos os países, priorizando profissionais de saúde e grupos de risco para a doença, como pessoas com mais de 65 anos ou com outras doenças crônicas.

Mariângela classificou como prudente a decisão do governo do Paraná de prever uma reserva no Orçamento de 2021 para eventual aquisição de vacina, mas ponderou que a solução será global. “Países individuais vão ter uma dificuldade enorme de fazer negociações individualmente. A melhor aposta que o Brasil e que o Paraná podem fazer é uma aposta num fundo global, que vai negociar contratos, negociar preços, do que tentar uma compra direta, pois terá gente com muito mais dinheiro no mercado que esses R$ 200 milhões. É boa a reserva orçamentária, mas não creio que haverá solução individual”, disse.

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