
“Num período em que o Brasil se desindustrializou, o Paraná tem avançado na indústria”, diz Marcelo Curado, professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Ele não faz referência apenas ao atual governo, mas aos últimos 20 anos.
Curado diz que o Paraná tem características naturais que explicam esse fato: a posição geográfica e a força do setor agrícola, que é a base da sua industrialização. “Mas, foram os investimentos em infraestrutura e a estabilidade nas regras do jogo que atraíram investimentos”, diz. Para o professor, a previsibilidade, a transparência e a garantia do cumprimento dos contratos é o que dá segurança ao investidor.
O cooperativismo, que tem força na economia paranaense como em nenhum outro estado do país, é locomotiva de muitas transformações recentes. Seja na cadeia do frango, seja nos setores de carne suína, bovina, pescados, produtos lácteos ou maltaria.
“As cooperativas têm investido pesado na industrialização nos últimos anos”, diz Robson Mafioletti, superintende da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar). Atualmente 48% do faturamento das cooperativas agropecuárias vêm de produtos industrializados. “Há uma década esse percentual era de 40%”, informa.
A agregação de valor tem acontecido também em outros setores fora do agro, como automotivo, metalmecânico, químico, madeira e móveis, papel e celulose. É preciso, contudo, avançar mais e mais rápido. “O Paraná precisa completar todas as fases da cadeia do setor industrial. Não produzir só o óleo de soja, por exemplo, mas a embalagem, o rótulo que vai na embalagem, a tinta usada para escrever o rótulo”, destaca o economista e professor José Pio Martins.
Além disso, na opinião de Martins, o investimento tem que ser direcionado para as regiões mais distantes e pobres e para isso é preciso incentivo. “Ninguém vai instalar uma fábrica em São Jerônimo da Serra (norte do Paraná) se o que o Estado oferecer for o mesmo que se oferece para uma indústria se instalar em Ponta Grossa (Campos Gerais), que está próxima da rodovia e do porto. Claro que a opção será por Ponta Grossa”, diz.
“Para atrair investimento para um município pequeno, distante e sem infraestrutura adequada tem que se isentar de impostos. O governo não quer fazer isso porque não vai arrecadar, mas o pior investimento é o que não existe”, opina Martins. Segundo ele, o imposto que deixa de ser pago pela indústria que foi lá para o pequeno e distante município é compensado com a geração de emprego, a melhoria da vida da população e a movimentação do comércio.
O secretário chefe da Casa Civil, Guto Silva, diz que o governo tem trabalhado no sentido de “não atrapalhar”. Ele cita a agilização no processo de abertura de empresas, com a digitalização dos serviços da Junta Comercial e o programa Descomplica Rural, que automatizou e acelerou os licenciamentos para empreendimentos no campo. “Estamos agora trabalhando junto com a Fiep no Descomplica Indústria”, informa.
Guto Silva cita também a agência Invest Paraná, que atua prospectando e atraindo investimentos para o estado e o programa Paraná Competitivo, da Secretaria da Fazenda, que oferece incentivos fiscais. De 2019 até hoje, o Paraná Competitivo investiu R$ 16,9 bilhões em 53 indústrias. O valor refere-se a incentivos que as empresas recebem e, como contrapartida, geram empregos no Estado.
A CVale, de Palotina, atua na produção de processados de carne de frango há 15 anos. A produção de filé de peito de frango cozido e nuggets é destinada ao Reino Unido, União Europeia, América Latina e Oriente Médio. A rede McDonalds está entre os clientes.
A cooperativa Lar, com sede em Medianeira, nos últimos cinco anos, ampliou a produção de 17 mil para 32 mil toneladas na industrialização de cortes de frango, que envolve a linha de produção de empanados e cozidos, onde estão os ‘nuggets’. Segundo a cooperativa, a agregação no processamento da carne de frango chega a 40%.
“A nova unidade de alimentos preparados que está sendo construída em Rolândia é um exemplo da estratégia da empresa de investir em inovação de produtos de alto valor agregado”, afirma Darlan José Carvalho, diretor de negócios da Seara, do grupo JBS. Ele informa que a nova planta vai produzir empanados e salsichas para atender o mercado interno e externo.
O investimento de R$ 1,85 bilhão inclui a nova unidade de alimentos preparados e a expansão da atual unidade de aves já em operação, com geração de cerca de 2,6 mil novos empregos diretos, além da integração de cerca de 150 novas granjas produtoras. A previsão é que a obra da nova unidade esteja concluída no quarto trimestre de 2022.
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