Produção no Paraguai para atender o mercado brasileiro

O empresário paranaense Gustavo Martin está instalando uma indústria de materiais hospitalares no Paraguai. Ele ainda não opera lá, mas se sentiu atraído pela política de incentivos. A ideia é que produtos como luvas e toucas sejam finalizados no Paraguai, para na sequência ter 100% da produção destinada ao mercado brasileiro. “Já temos mercado certo, enxergamos a possibilidade de investimentos e os incentivos serão importantes para iniciarmos com 50 empregos diretos e, em dois anos, saltarmos para 300”, contou.

A fábrica ficará na região de Presidente Franco, município que faz fronteira com a cidade brasileira de Foz do Iguaçu (PR) e que está ao lado de Cidade do Leste, maior centro comercial do país. “Escolhemos a cidade também como condição estratégica logística porque, quando a segunda ponte entre Brasil e Paraguai estiver operando fluxo, teremos uma facilidade logística para chegar ao Brasil”, destacou.

A tão esperada Ponte da Integração entre Brasil e Paraguai foi construída pelo governo federal, na gestão de Jair Bolsonaro (PL), com recursos da Itaipu Binacional. A estrutura principal está pronta, mas as obras de o seguem sendo preparadas a os lentos. Só quando elas forem concluídas é que a ponte será liberada para agem, com a proposta de fluxo exclusivo para caminhões. As estimativas mais recentes do governo federal apontam que isso ocorra no ano de 2025.

Enquanto isso, os transportadores de carga disputam espaço na Ponte Internacional da Amizade, na fronteira de maior movimento do Brasil, por onde am mais de 40 mil veículos por dia. “Na Ponte da Amizade muitas vezes os caminhões precisam esperar para atravessar a fronteira à noite, por conta do movimento intenso. Com a segunda ponte, não teremos esse problema e diversos entraves de logística serão resolvidos, apostamos nisso”, avaliou o empresário.

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Brasil é o antepenúltimo na lista de piores ambientes para negócios

Segundo levantamento feito pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI), somente no ano de 2021 (dados mais recentes disponíveis), as indústrias brasileiras investiram em solo paraguaio US$ 904 milhões, cerca de R$ 4,5 bilhões. “Vamos pensar o quanto isso poderia ter gerado de empregos no Brasil caso os recursos tivessem sido aplicados aqui? Mais importante que isso, é conquistar os investimentos e mantê-los no Brasil”, destacou o economista da Fiep Marcelo Alves.

Entre os fatores que estimularam a ida de unidades industriais ao Paraguai estão fatores considerados essenciais para o segmento empresarial. Ainda segundo a CNI, enquanto o custo trabalhista da mão de obra no Brasil é de 110% sobre o valor do salário, no Paraguai é de 35%. E são problemas ligadas à mão de obra que estão no topo dos desafios da indústria brasileira. Em um ranking composto por 18 países no qual se avalia os melhores ambientes de negócio, o Brasil está em 16º, na frente apenas da Argentina (18º) e do Peru (17º).

Entre os itens que encabeçam a relação avaliada com empresários do segmento de Norte a Sul, junto com a mão de obra, estão as dificuldades de o a financiamentos e o custo elevado do crédito no Brasil, com taxas de juros consideradas extremamente altas. “O Brasil é o país com o pior desempenho no ranking do fator financiamento entre os 18 países avaliados. Apesar de se posicionar no terço intermediário em duas das três dimensões avaliadas – disponibilidade de capital e desempenho do sistema financeiro – o custo do capital no Brasil é muito superior ao custo nos demais países, levando-o para o final do ranking nesse fator”, alertou a CNI.

Constam ainda na relação de desafios e problemas a infraestrutura e logística, a tributação elevada, a falta de condições para um ambiente macroeconômico, as dificuldades para estrutura produtiva, os problemas com ambientes de negócio, as dificuldades em educação profissionalizante e problemas de tecnologia e inovação. “Tudo isso pesa, mas outros aspectos também são levados em consideração pelos industriais (ao avaliarem investimentos fora do país), como a mão de obra. Não é só custo, é preciso avaliar a qualidade, como será o produto acabado, como serão as logísticas envolvidas. Tudo isso deve e está sendo considerado”, concluiu o economista.

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