Todas as ações, explicou a secretária, foram pequenos os dados no sentido de criar e reforçar aos poucos a cultura criativa dentro da rede pública de ensino. Com o tempo, os profissionais envolvidos foram cada vez mais “se encantando” com o processo como um todo, comentou Bacila. “Foi se tornando uma demanda natural da sociedade, da comunidade escolar, e não uma imposição. E isso é o mais importante nessa jornada”, completou. 456n34

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Depois do período que tiveram que ficar em casa por conta da interrupção das aulas presenciais provocada pela pandemia de Covid-19, alguns estudantes do 4º ano do Ensino Fundamental de Jaguariúna, a cerca de 125 quilômetros da capital São Paulo, ainda não estavam lendo e escrevendo, como era de se esperar. Para atacar o problema, a professora Luciene Mara de Lima resolveu, em vez de utilizar práticas convencionais, como o ditado, provocar os estudantes de outra forma, usando um software de programação de computadores.

O programa se chama Scratch, uma linguagem gratuita de programação em blocos com o intuito de criar animações e jogos, entre outros. Essa foi a opção escolhida, como ela contou à Gazeta do Povo, em virtude de um recebido dos alunos: ficar sentado, lendo ou ouvindo o ditado, era muito chato.

“Os alunos ficaram encantados com o programa, mas eles não estavam sabendo usar a ferramenta, porque para dar as instruções ao programa era preciso saber ler e escrever. Dessa forma, foi proposto a eles um desafio de aprender a ler e escrever com o propósito de poderem usar o Scratch. O resultado foi excelente, porque essas crianças resolveram um problema real que elas tinham, que era a vontade de aprender a usar o Scratch, com o uso do conhecimento de leitura e escrita, aprendido de uma forma diferente daquela que a gente estava acostumado”, disse.

Estudante da rede pública de Curitiba utilizando a linguagem de programação Scratch. (Foto: Valdecir Galor / Arquivo SMCS)

O município está fazendo um levantamento que deve ser concluído em março. De forma preliminar, a professora revelou à reportagem que o índice de frequência dos alunos nas escolas participantes do programa Escola Criativa aumentou substancialmente. “As próprias crianças descobriram que aprender é algo gostoso”, comentou Luciene. “Aquele cenário de os pais tendo que tirar os filhos da cama e praticamente empurrando as crianças para a escola já não existe mais. Agora é a criança que provoca os pais para que eles não percam a hora da aula”, comemorou.

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A cidade alagoana de Branquinha, distante cerca de 66 quilômetros da capital Maceió, tem cerca de 10,5 mil habitantes. A rede municipal de Educação tem 17 escolas, e em todas elas, os estudantes estão colocando em prática os preceitos da Aprendizagem Criativa. A princípio, o foco era nos anos iniciais do Ensino Fundamental, e em um segundo momento, o programa foi estendido aos anos finais, nas turmas do 6º ao 9º anos. A meta agora é estender o processo à Educação Infantil.

A participação no programa teve impacto direto principalmente na recuperação de estudantes que sofreram um forte impacto negativo no aprendizado durante a pandemia. O secretário municipal de Educação, Ednaldo Firmino, explicou à Gazeta do Povo que grupos específicos foram criados para trabalhar de forma mais direta com esses estudantes.

“São os grupos de recomposição da aprendizagem. Graças ao programa, que torna o estudante mais participativo dentro do processo de ensino e aprendizagem, estamos conseguindo bom resultados. Isso também se deve a professores mais engajados, que fazem com que esses alunos façam atividades mais lúdicas, mais dinâmicas, que têm mantido essas crianças na escola, diminuindo a evasão”, avaliou.

Assim como na rede de Jaguariúna, parte das atividades desenvolvidas em Branquinha é feita com o auxílio do Scratch. Mas por lá, a criatividade extrapolou o uso do programa nos computadores, como revelou o secretário. “Nós estamos desenvolvendo estratégias em que o mesmo pensamento utilizado no programa está sendo adaptado para tabuleiros de xadrez. Os professores vêm propondo esses desafios aos estudantes, que estão usando os conceitos aprendidos no computador fora do ambiente virtual”, pontuou.

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Motivar os professores para se engajarem no programa é uma das estratégias adotadas pela rede municipal de Educação de São Luís (MA) para garantir o sucesso do programa. Inicialmente, das 159 escolas da rede municipal, 10 foram escolhidas para entrarem no Escolas Criativas. O resultado foi tão positivo que, para 2023, a meta foi ampliada com o propósito de levar as práticas a toda a rede.

Em cada uma dessas escolas, há a figura do embaixador. Segundo Sandreliza Mota, formadora Mestre do Programa Escolas Criativas e coordenadora do Centro de Altas Habilidades ou Superdotação (CAAHS) da Secretaria de Educação de São Luís, esses embaixadores são principalmente professores que já realizam atividades diferenciadas dentro de sala de aula. Em entrevista à Gazeta do Povo, Sandreliza explicou que eles trabalham como multiplicadores do programa.

“Eles são exemplos que acabam inspirando os colegas. São professores inovadores, que têm esse perfil de convidar os outros e levá-los a mudar o jeito de pensar e de preparar as aulas, o que não é uma tarefa fácil. O foco deles é internalizar esse processo de inovação, mas sempre com base na BNCC, uma vez que tudo tem que sempre ter um propósito. A Aprendizagem Criativa se baseia nos chamados ‘4Ps’: projetos, parcerias, paixão e pensar brincando. Esses professores conseguem trabalhar com um quinto P, que é o de ‘propósito’. Isso faz com que os outros docentes entrem no programa não por terem sido convencidos, mas por terem se deixado inspirar e terem desenvolvido essa vontade de pensar diferente”, disse ela.

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