Com a corrida pelo desenvolvimento de mais vacinas ainda em andamento, a aprovação do imunizante da Pfizer/BioNTech dá o tiro de largada para uma segunda corrida, em que cada país buscará garantir à sua população as doses necessárias para criar a imunidade coletiva que permitirá o retorno à normalidade pré-pandemia. O governo britânico adquiriu 40 milhões de doses da vacina da Pfizer/BioNTech, mas, somando todas as outras encomendas feitas a laboratórios cujas vacinas ainda estão em testes, o total chega a 350 milhões de doses, para um país de quase 70 milhões de habitantes. O Canadá foi ainda mais longe: os acordos para a aquisição de sete vacinas diferentes garantirão quase dez doses por pessoa, quando o mais provável é que a imunização ocorra com uma ou duas doses, dependendo da vacina. Um dos laboratórios que recebeu encomendas do governo canadense já garantiu que o país será um dos primeiros da fila.

Sem vacinas suficientes para toda a população global em um primeiro momento, há o grande risco de se repetir o “cada um por si” visto no início da pandemia em relação a insumos médicos e hospitalares. Uma das primeiras vozes a soar o alerta para essa situação foi a do papa Francisco. Em agosto, durante uma audiência, o pontífice afirmou: “Seria triste se nessa vacina contra a Covid-19 fosse dada a prioridade aos mais ricos! Seria triste se esta vacina se tornasse propriedade desta ou daquela nação e não universal para todos”. Mais recentemente, a Organização das Nações Unidas previu que um cenário no qual os países mais pobres demorem a ter o à vacina intensificará crises humanitárias causadas pela pandemia e por outros fatores, como conflitos bélicos e as mudanças climáticas, levando ao maior desastre do gênero desde a Segunda Guerra Mundial. E o diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT) afirmou que o efeito deletério da pandemia sobre os salários está apenas no início, com as mulheres e os trabalhadores de baixa remuneração figurando entre os principais prejudicados.

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A América Latina é uma das regiões que podem ser mais afetadas, segundo a ONU. Cerca de um terço dos latino-americanos e caribenhos entrará 2021 em situação de pobreza, o pior número desde 2005. A vacina, sozinha, não consegue reverter esse cenário, mas é condição necessária para uma recuperação mais robusta. Neste sentido, é positivo o fato de o Ministério da Saúde já ter apresentado uma estratégia para a vacinação contra a Covid-19 no Brasil. O plano, infelizmente, contempla pouco menos da metade da população brasileira, limitação imposta pelo número de doses encomendadas pela União até o momento. O ministro Eduardo Pazuello se mostrou frustrado com as recentes conversas com laboratórios na tentativa de ampliar essa oferta. Garantir uma cobertura vacinal mais ampla, que efetivamente livre o país da Covid-19, dependerá de mais boas notícias neste campo, com o sucesso de outras vacinas, e da participação de estados, municípios e iniciativa privada para suprir a demanda.

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