Bittar reafirmou seu compromisso com a agenda econômica do governo e com o ajuste fiscal. Em nota, afirmou que “o meu relatório não trará nenhuma flexibilização ao teto de gastos” e que “seguiremos apoiando a agenda da austeridade e da responsabilidade fiscal, trabalhando pelas reformas estruturantes, pela melhora das contas públicas e pela retomada da economia”. Além do telefonema de Bittar, Guedes recebeu uma nova minuta na segunda-feira, sem o dispositivo fura-teto; na terça-feira, foi a vez de os líderes partidários receberem o texto, de acordo com o relator. Mas só a apresentação formal do relatório permitirá ter certeza a respeito da presença ou ausência deste ou de outros truques para contornar o teto de gastos.
A certeza que o episódio deixa é a de que os adversários do teto de gastos não descansam. Alguns o rejeitam por convicção ideológica, vendo no gasto público o grande motor do desenvolvimento econômico; para outros, o teto acaba inviabilizando despesas que renderiam importantes dividendos eleitorais. Este último grupo inclui tanto parlamentares quanto setores do governo, como o Ministério do Desenvolvimento Regional. Há quem julgue que aumentar a despesa governamental é a única forma de o presidente Jair Bolsonaro manter a popularidade conquistada com medidas como o auxílio emergencial distribuído durante a pandemia de Covid-19 e que deve ser encerrado no fim deste ano.
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O teto de gastos já foi deixado de lado emergencialmente, para acomodar as necessárias despesas feitas para amenizar o estrago causado pelas restrições aos negócios impostas para conter o coronavírus. A situação, no entanto, justificava a medida. Coisa muito diferente é relativizar a regra propriamente dita, abrindo exceções que, todos sabem, começam pequenas, mas acabam se avolumando até que o descontrole volte a ser a norma. Se Bolsonaro quer que a economia seja um ponto forte em seu plano de reeleição, o caminho é o compromisso com o ajuste fiscal, elevando a confiança do investidor interno e externo, o que por sua vez trará geração de emprego e renda. Usar truques fiscais para ter ganho eleitoral foi uma estratégia usada muito recentemente, e que todos sabem como terminou.