O mesmo ocorreu durante a sessão de quinta-feira no Senado, quando Haddad se defendeu dizendo que tem “tomado medidas impopulares, mas são medidas que justamente saneiam as contas para permitir um horizonte de planejamento maior”. Difícil falar em “saneamento” quando praticamente todas as medidas recentes atuam no sentido de elevar receitas e colocar mais dinheiro nos cofres do governo, sem que haja um esforço mínimo em cortar substancialmente as despesas, os desperdícios, as imoralidades e privilégios. A própria Simone Tebet afirmou recentemente que o arcabouço fiscal proposto não tinha o objetivo de cortar gastos, e que isso viria depois. Ora, ninguém pode dizer que arrecada pouco um governo que tira um terço de tudo o que o país produz; o problema não é este, e sim o fato de esse mesmo governo gastar muito mais que esse um terço. Sem atacar a despesa, a consequência será o “fiasco”, como alertou o ex-presidente do BC Armínio Fraga, que também participou da sessão de quinta no Senado. 5v164k
“Não se consegue estabilidade social com inflação descontrolada”, disse Campos Neto no Senado, na quinta-feira. Inflação alta é fatal para os pobres, que não têm como se defender da perda no poder de compra, e é fatal para o empresário, incapaz de fazer planejamentos de longo e até médio prazo. Os ministros falam em trabalho conjunto, mas não querem dizer com isso que o governo precisa atuar com mais firmeza no ajuste fiscal para não deixar o BC sozinho no combate à inflação; pelo contrário, eles dão a entender que é o BC que teria de se adequar às políticas do governo. Nessa toada, e a julgar por outras repercussões das duas idas de Campos Neto ao Senado, o técnico continuará pregando no deserto.