E não há dúvidas de que a reforma tributária, para ficar naquela que já havia trilhado um caminho razoável dentro do Congresso, é um bem em si mesma. Apenas a simplificação dos tributos já representará um enorme alívio, especialmente para as empresas, hoje tolhidas por um arsenal quase incompreensível de normas tributárias que consomem tempo, pessoal e energia que seriam muito melhor empregados na atividade-fim de cada negócio. Dependendo da reforma que for feita, ela também terá outros efeitos altamente benéficos: a desoneração da folha de pagamentos terá efeito duradouro sobre o emprego, facilitando as contratações; se nosso sistema tributar menos o consumo e a produção, deslocando a ênfase para a tributação sobre patrimônio e renda, ajudará especialmente os mais pobres.
Mas até isso a discussão sobre o novo programa social chegou a travar, já que, dependendo dos meios que a equipe econômica encontrasse para financiar o Renda Brasil, seria preciso redesenhar as fases seguintes da reforma que Paulo Guedes queria enviar ao Congresso. Só quando Jair Bolsonaro, insatisfeito com as ideias apresentadas, encerrou a conversa sobre o Renda Brasil e transferiu a responsabilidade para o Congresso, que incluiu o Renda Cidadã na PEC Emergencial, os dois temas foram desvinculados – e mesmo assim a segunda fase da reforma tributária ainda não foi enviada.
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O mercado já vem reagindo a essa mudança súbita nas prioridades de Brasília, com as reformas perdendo importância diante da discussão do novo programa social. Neste sentido, mais relevante que as oscilações diárias do dólar e da bolsa de valores é a disparada na curva de juros futuros. Ainda que a Selic esteja, atualmente, nos patamares mais baixos da série histórica, são os juros futuros que indicam a confiança do mercado na capacidade brasileira de honrar seus compromissos nos próximos anos. E esses juros, que já vinham subindo desde agosto, quando as pressões contra o teto de gastos aumentaram, deram um salto após o anúncio do Renda Cidadã financiado com Fundeb e precatórios, mostrando que os investidores já não enxergam em Brasília um compromisso tão firme com o ajuste das contas públicas.
Sim, é preciso pensar em meios de auxiliar os mais vulneráveis neste momento. Mas, no médio e longo prazo, o que realmente vai permitir combater e vencer a pobreza é uma economia em ordem. As reformas têm de recuperar a urgência que já chegaram a ter em alguns momentos, antes de serem eclipsadas por outros temas como vem ocorrendo agora; e, como as polêmicas não deixarão de existir, governo e Congresso precisam se comprometer com as reformas a ponto de não as deixarem em segundo plano novamente a cada bomba que explodir em Brasília. Sem essa definição clara de prioridades, será ainda mais difícil devolver o Brasil ao rumo certo.