em abril, maio [de 2020], em que todo mundo doava. Mas as pessoas doavam na expectativa de que ia até junho o problema. Só que o tempo ou, o ano virou, e 80% das pessoas já não estavam mais doando”, afirma Celso Athayde, CEO da Favela Holding. Restam as redes de apoio entre os próprios moradores das favelas: aqueles que ainda têm uma fonte de renda procuram contratar vizinhos para funções como babá. Mas, em casos mais dramáticos, sem o mínimo necessário para o sustento, mesmo essas redes de ajuda mútua estão se desfazendo porque já não há o que dividir.
Nestas condições, soa pretensioso e até insensível exigir dos mais pobres que adotem o “fique em casa”. Capturados entre a possibilidade da contaminação e a certeza da fome, os mais pobres sairão, sim, à rua para buscar o pão de cada dia, e é totalmente compreensível que o façam – 78% dos moradores de favelas dizem não ter como se isolar porque precisam trabalhar. “Vamos pensar em como foi a elaboração da campanha de lockdown, do álcool em gel, do ‘fique em casa’... Isso tudo foi feito partindo de uma realidade que ignora a realidade social brasileira”, afirma Preto Zezé, presidente nacional da Cufa. Mesmo assim, os mais pobres não deixam de aplicar as medidas de higiene que estiverem à sua disposição; o uso de máscaras, por exemplo, se tornou um “consenso” nas favelas, afirma o líder comunitário.
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O auxílio emergencial, reduzido em 2021, continuará representando uma ajuda bem-vinda, mas está muito longe de recompor totalmente a renda de quem ficou sem trabalho graças à pandemia. Em complementação ao programa federal, alguns estados e municípios criaram versões próprias do auxílio. Mas, enquanto o ritmo de vacinação não viabilizar um controle da Covid-19 que permita o retorno pleno dos negócios – e o ministro Paulo Guedes já defendeu a vacinação rápida dos mais vulneráveis, embora seu desejo esteja muito longe de se concretizar –, só a combinação entre ajuda estatal e solidariedade privada poderá impedir uma catástrofe ainda maior nas favelas.