A ignorância em tarefas básicas de interpretação de texto e operações matemáticas, especialmente, permite desenhar um quadro desesperador para o mundo do trabalho. Sem esses conhecimentos básicos, boa parte dos brasileiros que em alguns anos estarão à procura de emprego será incapaz de preencher vagas que exijam um nível médio de habilidade – e nem estamos nos referindo a postos com requerimentos mais altos –, condenando esses jovens a uma vida de empregos mais básicos, de menor remuneração, muito longe de poder assumir o protagonismo no novo cenário criado pela Quarta Revolução Industrial.

O resultado brasileiro, no entanto, é bastante heterogêneo, reflexo da desigualdade social e das diferenças entre as redes de ensino. A média dos estudantes de alta renda foi 97 pontos maior que a dos de baixa renda. Entre os países da OCDE, esta diferença é de 89 pontos – olhando por esse ângulo, a situação não parece tão grave. Mas, enquanto essa disparidade se manteve estável dentro da OCDE ao longo dos últimos dez anos, no Brasil ela subiu, pois em 2009 ela era de 84 pontos. Quando são analisados apenas os resultados dos 12 institutos federais e de um colégio militar que participaram do Pisa, eles deixariam o Brasil empatado com a Austrália em leitura, com a Croácia em Ciências e com Portugal em Matemática, segundo o Ministério da Educação. Levantamento do jornal O Estado de S.Paulo mostrou que as notas das escolas particulares de elite colocariam o Brasil no quinto lugar geral em leitura, posição ocupada pela Estônia, o melhor país europeu.

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Weintraub também fez questão de associar o resultado do Pisa à gestão do Partido dos Trabalhadores, já que os estudantes que fizeram a prova aram praticamente toda a sua vida escolar com o partido no Planalto. É uma afirmação que precisa ser lida com cuidado, pois, ainda que seja evidente a existência de uma certa ideologização no ensino, também é verdade que as escolas onde estudam ou estudaram a maioria dos alunos do Pisa são de responsabilidade de municípios e estados cuja gestão não necessariamente foi de governos de esquerda. Mais importante que buscar culpados é encontrar as razões estruturais para as deficiências do ensino brasileiro, especialmente na rede pública. Muitas delas são conhecidas, desde a desvalorização do professor até questões de disciplina. Enfrentar esses problemas de frente é a chave para que, no fim de 2022, quando forem apresentados os resultados da prova aplicada em 2021, o Brasil possa mostrar melhoria.

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