O sistema econômico é um todo composto de partes, cada uma com sua lógica interna e certa independência entre si, mas que conservam harmonia de forma a compor um conjunto, no qual as ocorrências com uma parte exercem efeitos sobre as demais. As teorias macroeconômicas foram forjadas ao longo de séculos pela observação da realidade e do funcionamento de cada parte e suas variáveis, o que permitiu deduzir uma série de leis científicas explicativas da dinâmica dessa grande máquina chamada “economia nacional”.

Nessa linha, a política econômica pode ser definida como a ferramenta com a qual a sociedade intervém, geralmente por meio do governo, no sistema econômico e em seu funcionamento. Após muitos erros históricos, a humanidade aprendeu que a economia tem leis rigorosas, as quais não podem ser alteradas por mera vontade de governos ou de legisladores. É o caso conhecido da lei da escassez e da lei da oferta e procura. Assim, de início sabe-se que qualquer movimento em alguma das partes do sistema, ou de algumas de suas variáveis, produz consequências sobre o todo.

Além de a taxa de crescimento de 0,9% no segundo trimestre ter sido inferior ao crescimento de 1,8% obtido no trimestre anterior, o sinal negativo ficou por conta da baixa taxa de investimento em relação ao PIB, que foi de 17,2%

A partir desses aspectos próprios da economia nacional, os efeitos sobre as pessoas em termos de emprego, renda, consumo e padrão de bem-estar tem conexão direta com o tamanho do PIB, do investimento e dos impostos, e suas variações. Um dos grandes desafios dos modelos de contabilidade nacional e estatística econômica é encontrar similaridades e inconformidades nos vários elementos da dinâmica de produção, emprego, renda, consumo, poupança e investimento. Aqui entra a questão da lógica produtiva e das variações do PIB no tempo.

Os modelos utilizados pelos países para analisar o desempenho econômico em períodos – ano, trimestre, mês – fazem parte das estatísticas dos principais organismos internacionais, como a ONU, o FMI, o Banco Mundial e os grandes institutos mundiais de pesquisa e informação. De início, é preciso considerar que as variações do PIB revelam mais fielmente o desempenho comparativo quanto maior o período comparado. A comparação do produto nacional de períodos curtos – mês ou trimestre – não reflete fielmente a estrutura nem a velocidade de expansão da produção, pois os meses e os trimestres são diferentes entre si em vários aspectos.

Para ilustrar essa realidade, basta lembrar dois aspectos: uma safra agrícola, a exemplo da soja, pode ser plantada em agosto/setembro e colhida de seis a oito meses depois. O PIB dos meses de plantio incorpora determinadas variáveis econômicas relativas ao plantio e seu custeio, mas não incorpora o valor agregado que somente é conhecido quando o produto é colhido meses depois, no ano seguinte, mesmo porque nunca se sabe a que preços os produtos serão vendidos e contabilizados. Pegando um exemplo internacional, os países mais gelados da Europa têm estrutura produtiva bastante peculiar no inverno, como o elevado consumo de gás para aquecimento, que apresenta valor elevado no PIB, consumo esse que cai substancialmente no verão.

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Assim, é fácil perceber que o desempenho de uma economia é tão mais real quanto maior o período usado nas comparações, razão por que as contas nacionais anuais são as mais adequadas, a considerar que um ano inteiro completa um ciclo produtivo e as quatro estações climáticas. De qualquer forma, o desempenho de um trimestre pode mostrar determinadas retrações na economia que, se continuarem, prejudicarão sensivelmente o PIB anual. No caso do PIB brasileiro do segundo trimestre de 2023, além de a taxa de crescimento de 0,9% ter sido inferior ao crescimento de 1,8% obtido no trimestre anterior, o sinal negativo ficou por conta da baixa taxa de investimento em relação ao PIB, que foi de 17,2%.

Vale ressaltar que na conta “investimento” estão computados os gastos com aumento do estoque de capital físico do país, que se pode agrupar em três conjuntos: infraestrutura física, infraestrutura empresarial e infraestrutura social. O PIB é composto de bens e serviços de consumo e bens de capital, estes últimos destinados a expandir o capital físico do país. A taxa de 17,2% é triplamente baixa: primeiro, porque o Brasil há algum tempo vem com taxa em torno de 19%; segundo, porque a taxa ideal a ser buscada, para o país elevar a renda per capita e eliminar a pobreza em três décadas, é de 25%; terceiro, porque a taxa de investimento é chamada, no linguajar técnico, de “formação bruta de capital fixo”, isto é, não considera a depreciação do capital físico decorrente do desgaste dos bens de capital e do descarte das máquinas, equipamentos e outros bens por envelhecimento físico ou obsolescência tecnológica.

Embora haja muito mais a observar sobre as variações do PIB de um trimestre a outro, o dado mais preocupante, principalmente em relação ao futuro do Brasil, é a taxa de investimento, sobretudo sabendo-se que o setor público vem perdendo capacidade de investimento com recursos próprios oriundos da arrecadação tributária. Em verdade, o investimento consolidado do setor estatal (prefeituras, estados e União) está sempre abaixo do déficit público nominal, ou seja, o setor público somente consegue investir se expandir a dívida pública, entre outras causas, porque a dívida implica elevado valor anual com os juros a ela incorporados.