Daí a necessidade dos “três Ds”. Não se trata de aplicá-los a toda e qualquer despesa; faz sentido, por exemplo, atrelar aposentadorias e pensões ao salário mínimo, especialmente considerando que a maioria dos benefícios é de valores baixos, e a desindexação traria um risco enorme de deterioração da renda de brasileiros vulneráveis. Mas há muitos outros pontos que engessam o orçamento, mantêm recursos parados ou forçam a elevação automática das despesas mesmo quando as receitas se tornam escassas, como no momento atual, em que a atividade econômica deprimida afeta a arrecadação. 6e735j

Ínfimos 2% do orçamento não dão liberdade alguma para que um gestor coloque em prática seus projetos e as plataformas que a sociedade endossou pelo voto. Ainda que muitas vinculações, obrigações e indexações tenham sido estabelecidas com motivos nobres, como garantir recursos para determinada área, na prática elas amarram as mãos do governante e desconsideram o fato de que as prioridades e necessidades de cada área mudam com o tempo. O choque da sociedade com a ideia de congelar aposentadorias não pode ser usado para esconder a urgência de se trazer mais flexibilidade ao orçamento. Sem um esforço para desindexar, desobrigar e desvincular pelo menos algumas despesas, situações como o pífio investimento público previsto para 2021 se tornarão cada vez mais comuns.