Os protestos das potências ocidentais contra a destruição da democracia em Hong Kong têm sido amplamente ignorados; em primeiro lugar, porque até agora não foram além de simples manifestações de desagrado, ainda que veementes; em segundo lugar, porque a China realmente se considera capaz de seguir fazendo o que bem entender – seja com Hong Kong, seja no Mar do Sul da China –, testando os limites da comunidade internacional e sem esconder que seu grande objetivo é submeter também a ilha de Taiwan. O “boicote diplomático” anunciado por vários países aos Jogos Olímpicos de Inverno, marcados para fevereiro em Pequim, gerou reação mista por parte do governo, que ora manifesta indignação, ora minimiza o protesto – um jornal estatal chegou a afirmar que a ausência de autoridades estrangeiras seria até benéfica por não contribuir para a expansão da pandemia de Covid-19, que começou justamente na China. 1d6m3f

Ao comentar os resultados das eleições legislativas, Pequim mencionou uma certa “democracia com características de Hong Kong” – uma tônica repetida por autoridades do Partido Comunista e representantes diplomáticos chineses mundo afora, como se a China fosse apenas um “tipo diferente” de democracia, mas ainda assim uma democracia. Uma estratégia de propaganda típica dos adeptos de uma ideologia para quem a verdade pouco importa. Xi Jinping pode não atropelar os cidadãos de Hong Kong com tanques, como a ditadura chinesa fizera na Praça da Paz Celestial em 1989, mas isso não torna democrático um regime que coíbe todas as liberdades individuais (em Hong Kong e no resto do seu território), impede qualquer pluralidade política, censura a opinião, vigia seus cidadãos e massacra minorias étnicas como os uigures.