Tudo em nome da famosa “governabilidade”, entendida como o esforço de manter satisfeitos os parlamentares que votarão temas de interesse do governo em 2022. O decreto garante que o Ministério da Economia não terá mais como barrar, por exemplo, a execução de emendas parlamentares, inviabilizando acordos feitos entre o governo e sua base. “É uma decisão para organizar o governo de forma que possamos cumprir o que combinamos”, diz um dos interlocutores do Planalto ouvidos pela Gazeta – ainda que o combinado seja avançar sobre o dinheiro do contribuinte sem a menor consideração pela responsabilidade fiscal ou com a arrumação da economia, como tem ocorrido com as famosas “emendas de relator”.

Afinal, é disso que se trata: a ala econômica do governo, empenhada em devolver racionalidade ao gasto público especialmente depois de ter empenhado centenas de bilhões de reais no combate aos efeitos econômicos da pandemia, está em colisão constante com a ala política, que segue acreditando firmemente que os recursos públicos são infinitos e existem não para servir ao público, mas aos próprios interesses. Nesse embate, a equipe econômica tem sido vencida com enorme frequência, e a saída de inúmeros secretários e assessores importantes de Guedes demonstra a frustração de cabeças talentosas com as decisões tomadas em Brasília, ainda que o ministro siga no cargo, adaptando seu discurso e relativizando cada derrota.

VEJA TAMBÉM:

Cada vez mais fica evidente que há duas “agendas liberais” dentro do governo federal, uma que caminha e outra que está travada. De um lado, há esforços de desburocratização, desregulamentação e valorização da iniciativa privada; com exceção das privatizações, que apenas engatinham, estes objetivos vêm sendo cumpridos – aqui se incluem marcos legais como os do saneamento, das ferrovias e do câmbio, a Lei de Liberdade Econômica e as concessões de infraestrutura. Já o ajuste fiscal e a racionalização do gasto público com o enxugamento do Estado se tornaram um sonho cada vez mais distante, à medida que as reformas estruturantes são dadas como impossíveis em 2022, substituídas pela erosão do teto de gastos, pelo aumento das despesas – inclusive com as emendas de relator e imoralidades como o fundão eleitoral – e, agora, pela entrega da execução do orçamento ao Centrão.