Além da tentativa de reescrever o ado, o artigo de Mantega chama a atenção não tanto pelo que propõe construir, pois essas ideias são expressas em termos bastante vagos, mas pelo que quer destruir, especialmente a reforma trabalhista e o teto de gastos. Em um exemplo típico da falácia post hoc ergo propter hoc, Mantega quer fazer seu leitor acreditar que os resultados fracos da economia brasileira se devem, em parte, a esses dois instrumentos, quando na verdade eles foram concebidos como forma de combater o descalabro que a gestão petista havia causado e que já estava em curso quando de sua aprovação pelo Congresso. 373l35

Que Mantega tenha recebido a oportunidade de um revival, quando deveria estar relegado à galeria dos piores ministros da Fazenda da história do país, é mais um sinal de que Lula está longe de ser o “moderado” que intelectuais e setores da imprensa pintam. O seu apreço nulo à democracia já estava exposto nas afirmações sobre regulação da imprensa e das mídias sociais, em sua solidariedade e apoio a nefastos ditadores latino-americanos e em várias outras demonstrações de que liberdades e garantias individuais pouco valem para ele. Ao dar a Mantega o papel de seu porta-voz econômico, Lula indica que irá radicalizar também na economia, dando ao Brasil uma segunda dose do veneno que derrubou o país em 2015 e 2016.