Que isso tenha ocorrido em duas eleições gerais sucessivas é sinal de que existe algo muito grave no mundo dos institutos de pesquisa. O “retrato do momento” está desfocado, distorcido, alterado por lentes coloridas. Na melhor das hipóteses, metodologias equivocadas estão levando a resultados radicalmente diferentes da realidade – algo que deveria ter sido corrigido já a partir de 2018, tamanhas as diferenças entre o que diziam as pesquisas e o que disseram as urnas. Jogar tudo nas costas de uma suposta volubilidade do eleitor foi apenas uma maneira de empurrar o problema para a frente, e ele volta a explodir bem diante dos institutos, que precisam vir a público e fazer seu mea culpa, itindo que o produto que entregam não está correspondendo ao que se promete. 5q19
Também a imprensa, com este episódio, precisa rever o tratamento que dá às pesquisas de intenção de voto. Já há muitos anos a Gazeta do Povo, por exemplo, fez a opção de não destacar como manchetes os resultados de tais pesquisas, limitando-se a apresentar seus dados ao leitor-eleitor como um serviço relevante, pois “os resultados divulgados têm potencial de influenciar decisões de partidos, de lideranças políticas e até mesmo os humores do mercado financeiro”, como escrevemos ao fim de cada publicação com dados de pesquisas eleitorais. Se essa influência está ocorrendo como resultado de números enviesados, mesmo que de forma não intencional, é chegada a hora de outros veículos se questionarem sobre a real dimensão que tais pesquisas merecem em seu noticiário.