O desemprego por si só, como mazela socioeconômica que precisa ser combatida com empenho, ainda está longe de ser vencido. Os 8% de junho deixam o Brasil mais perto do pleno emprego (obtido com taxas de desemprego entre 3% e 6%, dependendo do especialista) que dos 14,9% registrados no primeiro trimestre de 2021, no auge do estrago causado pelas medidas econômicas para conter a pandemia de Covid-19. Mas chegar a este objetivo – que alguns estados já atingiram, enquanto outros exibem taxas bem maiores que a média nacional – exige que o país continue crescendo neste segundo semestre, o que ainda é incerto. Além disso, o fato de as recentes quedas no desemprego serem puxadas pelo avanço do trabalho informal chamam atenção para o desafio da formalização.
A carteira assinada à maneira tradicional, embora seja – e provavelmente continuará sendo – o principal instrumento de formalização do trabalho, já não é o único. A modernização das leis trabalhistas trouxe consigo novas modalidades de contrato, como o trabalho intermitente, além daquelas em que os trabalhadores constituem pessoa jurídica para oferecer suas habilidades, como é o caso do MEI. Um governo realmente empenhado no combate ao desemprego atacaria nas duas frentes, retirando empecilhos – especialmente jurídicos e tributários – à contratação pelo formato mais comum, mas também respeitando a autonomia dos brasileiros que optassem por outras modalidades também formalizadas, evitando assim a informalidade total.
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No entanto, isso é pedir demais de um governo como o atual, cuja “cartilha retrô”, nas palavras do jornal Financial Times, também se aplica às relações de trabalho. O ministro Luiz Marinho só pensa em reabrir a torneira que fazia jorrar dinheiro para os sindicatos; nas poucas vezes em que tratam daquilo que dá nome à pasta, Marinho e seu chefe, o presidente Lula, não escondem seu desprezo pelas novas modalidades. Evidência disso são seus ataques constantes à reforma trabalhista e a polêmica criada por Lula no último debate da campanha presidencial de 2022, quando criticou a metodologia do Novo Caged afirmando que “colocaram o MEI como se fosse emprego” e acrescentando que “quero saber de emprego real, registrado, com carteira assinada”. O desemprego pode até seguir em queda, mas, sem nenhuma mudança de mentalidade em Brasília, isso ocorrerá apesar deste governo, e não graças a ele.