As condições para que o setor supermercadista pudesse atender o pedido presidencial, é verdade, seriam melhores se também o poder público demonstrasse empenho semelhante. Houve redução de impostos, mas a reforma tributária, mencionada por Galassi no evento dos supermercadistas, está parada; mesmo uma simplificação modesta teria efeito benéfico sobre os custos do setor. Isso não quer dizer, no entanto, que seja impossível segurar os preços; apenas que se trata de tarefa muito difícil e que exige precisão para que o remédio não se torne veneno. Se houver meios de manter seu negócio em pé vendendo mais barato, o supermercadista o fará – ainda que não por um desejo de colaborar com o país e conter a espiral inflacionária, ao menos para prevalecer sobre a concorrência; no entanto, se os custos seguirem em alta, não seria sábio, da parte de um empresário, arriscar a sobrevivência da empresa (bem como dos empregos que gera e dos seus fornecedores) apenas porque um presidente da República e um ministro fizeram um pedido. 3o2y4l

E Guedes, pela formação que tem, sabe muito bem o que acontece quando governos vão além de simplesmente pedir: controles de preços funcionam em um primeiríssimo momento, mas, à medida que mais e mais empresários logicamente se recusam a trabalhar com prejuízos seguidos, logo vem o desabastecimento. A Argentina dos “preços cuidados” já sofre com falta de diesel graças a políticas intervencionistas, e com o transporte de carga paralisado a escassez logo se estenderá a outros produtos, como o pão – isso no maior produtor de trigo da América Latina. Nenhum liberal tem como desejar destino semelhante para o Brasil.