A boquirrotice de Lula é uma verdadeira ofensa aos ucranianos, que já vêm discutindo há quase uma década que direção querem dar a seu país, e escolheram escapar da órbita russa e buscar maior integração com o ocidente. Ao menos desde a anexação ilegal da Crimeia, em 2014 (um fato que Lula omite de forma muito conveniente), os ucranianos sabem que não podem confiar em Putin – como agora também o sabem finlandeses e suecos, que consideram abandonar uma postura mais neutra e pedir sua issão na Otan. Há muito tempo já estava claro, da parte da Rússia, que a única condição para a distensão – não para uma verdadeira paz – seria a Ucrânia simplesmente abrir mão do direito de decidir seu próprio destino, submetendo suas relações exteriores ao Kremlin. Mas recusar tamanha submissão, para Lula, é “querer a guerra”.
Lula ainda afirmou que, “se fosse presidente do Brasil, e eles me dissessem ‘o Brasil pode entrar para a Otan’, eu diria não”, porque “o Brasil não tem disputas com nenhum país, nem Estados Unidos, nem China, nem Rússia, nem Bolívia, nem Argentina, nem México”. Aponte-se, de imediato, o absurdo de querer fazer qualquer paralelo entre um país que não tem nenhum tipo de disputa territorial e um país que é vizinho de uma superpotência nuclear, já foi vítima de uma agressão ada e continua a ser constantemente ameaçado. Mas a hipotética negativa de Lula faz sentido. O petismo sempre desprezou acordos e alianças políticas e econômicas com as democracias ocidentais, preferindo abraçar ditadores, autocratas e carniceiros na América Latina, na Ásia, na África e no Oriente Médio. Foi assim, por exemplo, que Lula e o PT trocaram a perspectiva de fazer do continente americano uma área de livre comércio pela transformação do Mercosul em um clubinho ideológico bolivariano, ou que arriscaram uma crise diplomática com a Itália para proteger o terrorista e assassino Cesare Battisti.
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Em outras ocasiões, Lula e outros membros do alto escalão petista já afirmaram que trarão de volta o modelo econômico que levou o país à lona em 2015 e 2016 – à Time, evidentemente, o ex-presidente preferiu repetir a mitologia que atribui apenas a ele todos os bons resultados de seu mandato, ignorando a “herança bendita” recebida de Fernando Henrique Cardoso e o momento internacional favorável às commodities. Agora, ao culpar a vítima pela agressão sofrida no caso da Ucrânia, Lula mostra que também quer ressuscitar alinhamentos diplomáticos que já desmoralizaram o Brasil diante de todo o mundo.