Isso eliminaria situações em que determinado candidato consegue muitos votos, mas acaba sem ser eleito porque o desempenho geral do partido foi fraco, e é obrigado a ver a festa de outros candidatos que tiveram menos votos, mas foram eleitos porque sua legenda é forte nas urnas. Para muitos eleitores, essa é uma injustiça que o “distritão” consertaria. Além disso, diminuiria o estímulo para que partidos buscassem “puxadores” de votos, celebridades que conseguiriam enormes votações e arrastariam consigo vários outros candidatos com votações medíocres. Essa distorção já tinha sido parcialmente eliminada na reforma política de 2017, quando ficou decidido que, para ser eleito, qualquer candidato precisaria conquistar ao menos 10% do quociente eleitoral.

No entanto, tais vantagens do “distritão” são largamente ofuscadas pelas desvantagens. A mais evidente delas é o enfraquecimento de instituições fundamentais para a democracia, os partidos políticos. Eles am a ser praticamente irrelevantes, já que nem o voto de legenda, nem o voto em candidatos de pior desempenho ajudarão a eleger os candidatos mais fortes. Até dentro de um mesmo partido, o que vigorará será o puro “cada um por si”. O modelo proposto também é altamente personalista, fortalecendo apenas aqueles que já têm mandato eletivo ou candidatos novatos, mas bastante conhecidos do eleitorado por outros motivos – ainda que algum partido continuasse recorrendo a celebridades “puxadoras” de votos, elas apenas beneficiariam a si mesmas, sem efeito algum na eleição de outros candidatos da mesma legenda. Isso faz do “distritão” um modelo rejeitado por dirigentes partidários, mas bem visto por parlamentares – mas mesmo entre eles há divergências, já que há partidos mais fortes no voto de legenda.

VEJA TAMBÉM:

Mais curioso é o argumento de Renata Abreu de que o “distritão” poderia servir como uma transição para o voto distrital misto, defendido recentemente pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Luís Roberto Barroso, em reunião com lideranças partidárias. Afinal, as características dos três modelos não permitem, de forma alguma, tratar o “distritão” como um meio termo entre o modelo proporcional e o voto distrital misto, defendido também por esta Gazeta do Povo. A única possibilidade seria entender “transição” apenas como um hiato temporal, em que se adotaria o “distritão” por algum tempo, talvez como um pedágio a se pagar para finalmente se implantar o voto distrital misto no Brasil. Em outras palavras, para o sistema eleitoral brasileiro melhorar, antes ele teria de piorar.

Se o objetivo final for o voto distrital misto, por que, então, não discutir diretamente sua adoção, sem ar antes por outros sistemas que acabam desvirtuando o sentido da representação política ao escantear os partidos? Uma reforma político-eleitoral de qualidade precisa fortalecer os partidos e aproximar eleitos de eleitores, eliminando, também, a imoralidade dos fundos que bancam partidos e campanhas eleitorais com dinheiro do contribuinte. Em vez disso, o que se está propondo é um modelo que privilegia o personalismo e anula os partidos, enquanto os problemas reais do sistema partidário-eleitoral brasileiro permanecem intocados.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros