Embora detendo condições favoráveis ao crescimento, um país somente consegue permanecer crescendo sem interrupções bruscas a depender do que governo e sociedade façam com tais condições de forma a garantir estabilidade econômica, política e social. Além dos recursos naturais e da estrutura econômica, a história mostra que um dos principais fatores de progresso é a qualidade das instituições. Foi por estudar e teorizar sobre a importância da qualidade das instituições, da cultura e das crenças do povo como condição para o desenvolvimento que Douglass North recebeu o prêmio Nobel de Economia em 1993.
Vale lembrar que, em relação à qualidade das instituições, destacam-se o funcionamento dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, a atuação do Banco Central, a estabilidade política e as liberdades individuais e econômicas. Douglass North destacou também, como qualidade das instituições, a garantia do direito de propriedade, a proteção aos contratos juridicamente válidos, a estabilidade da moeda, a eficácia da justiça e a estabilidade das leis. Esses fatores estimulam a livre iniciativa, o espírito empreendedor e a disposição dos agentes privados nacionais e estrangeiros quanto a investimentos no país.
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Em datas diferentes, o Brasil recebeu elogios da imprensa estrangeira especializada, a exemplo da revista The Economist, que, em 2009, mostrou a imagem do Cristo Redentor impulsionada por um foguete, referindo-se ao crescimento econômico do país. Essa mesma revista – uma das mais prestigiadas publicações mundiais na área – publicou outras matérias favoráveis ao Brasil até 2013, quando, então, fez análise pessimista sob o título “estragou tudo”, repetindo duras críticas em 2016, em matéria intitulada “traição”, referindo-se ao fato de que o Brasil ara de economia promissora a um caso de decepção. A razão era que o país havia mergulhado em grave recessão por dois anos seguidos, com a queda do PIB em 3,5% ao ano durante 2015 e 2016.
O Brasil parece um caso de patologia política por sua tendência de fabricar crises, mesmo quando elas parecem ter dado uma trégua, especialmente por meio das tensões no ambiente político e institucional envolvendo os três poderes. Neste início de 2022, ano conturbado naturalmente em função das eleições estaduais e federais, o ambiente político, agravado pelas consequências econômicas da pandemia e da crise hídrica, apresenta perturbações e instabilidade cujo efeito sobre o ânimo dos investidores privados nacionais e estrangeiros é o de desestimular o empreendedorismo e diminuir a disposição de investir e criar riqueza. O baixo índice de confiança não se restringe aos empresários e empreendedores individuais, mas afeta a todos os agentes de mercado, incluindo os trabalhadores, sejam empregados ou profissionais autônomos.
Uma nação somente caminha rumo ao progresso econômico e ao desenvolvimento social se houver confiança da sociedade nas instituições, nas leis, nas regras sociais, no cumprimento dos contratos e no comportamento ético capaz de minimizar a incerteza
No caso da confiança como clima geral, o sociólogo e cientista político Alain Peyrefitte afirma, em seu livro A Sociedade de Confiança, que uma nação somente caminha rumo ao progresso econômico e ao desenvolvimento social se houver confiança da sociedade nas instituições, nas leis, nas regras sociais, no cumprimento dos contratos e no comportamento ético capaz de minimizar a incerteza. Infelizmente, no Brasil, a baixa confiança nas instituições é alimentada o tempo todo por problemas decorrentes de causas graves, como confusões e tensões fabricadas no âmbito do Estado, suas instituições e seus poderes, muitas vezes por razões aparentemente pequenas. Essas tensões não teriam chance de ocorrer e se agravar em um ambiente político e institucional de bom nível.
Se os políticos, as autoridades públicas e a sociedade não entenderem que sem instituições boas, estabilidade política e econômica, respeito à Constituição e a conquista da confiança não há desenvolvimento, a atual situação de persistência da incerteza e baixo crescimento econômico se tornará doença crônica de um país que não conseguiu normalidade sobre si mesmo.