É compreensível que diante dos constantes atentados contra os direitos fundamentais promovidos pelas instâncias que, ao menos em tese, deveriam justamente proteger esses direitos, um sentimento comum dos cidadãos brasileiros – e aqui falamos de todo homem ou mulher que se preocupa com os rumos do país – seja o desalento. Mas por mais difícil que sejam o cenário e as perspectivas de mudança no curto prazo, é preciso insistir e buscar maneiras de colocar fim a esses abusos. Não é à toa que a máxima de que o mal reina quando os bons se calam é tão verdadeira: o silêncio dos bons cidadãos é tudo o que qualquer tirano – seja um político ou não – mais deseja para continuar a cometer seus desmandos. É por isso que defendemos a ideia de que é preciso manter acesa a chama da indignação contra os descalabros que, infelizmente, infestam o Brasil, dos quais a perseguição a Deltan Dallagnol e outros integrantes da Lava Jato é um exemplo irrefutável.

Neste mês, completam-se 10 anos das chamadas jornadas de junho, onde milhares de brasileiros foram às ruas mostrar sua indignação e cobrar uma resposta do poder público. Não temos dúvida de que a situação atual do nosso país mereceria uma ação de maior porte. Para o próximo domingo, dia 4 de junho, há a previsão de uma mobilização contra a cassação do deputado Dallagnol e todos os abusos contra as liberdades em nosso país. Divergências entre diferentes lideranças mais à direita do espectro político talvez impeçam que ela tenha a magnitude que deveria ter. São vicissitudes próprias de uma democracia. Isso, no entanto, não deve desanimar quem tem a convicção e a consciência de que é necessário fazer o que está ao alcance de cada um. Se muitos eventualmente deixarem de comparecer – pela razão que for –, a manifestação, ainda que não tão grande quanto se desejaria, pode ser o início de um paulatino movimento de conscientização e mobilização.

VEJA TAMBÉM:

E, além da mobilização nas ruas, há muitos outros caminhos possíveis que os cidadãos, aqueles que se importam com os rumos do Brasil, podem seguir para dar voz à sua indignação e lutar por mudanças. Não é à toa que tantos governos antidemocráticos busquem cercear as comunicações e as redes sociais: elas são, hoje, um instrumento importante na defesa da democracia. Se antes os cidadãos raramente tinham contato com seus representantes eleitos, e só podiam manifestar seu apoio ou desagrado a cada eleição, através do voto, agora é possível cobrar posicionamentos e ações continuamente. Boa parte das questões que hoje afligem o país, como a falta de equilíbrio entre os Poderes, os abusos cometidos pelo Judiciário, os ataques às liberdades, am, mais cedo ou mais tarde, pelo Parlamento.

Uma atuação firme e comprometida com a defesa dos interesses do Brasil é o mínimo que se espera de nossos deputados e senadores. Por isso, cabe ao cidadão – usando as redes sociais, por exemplo – lembrar-lhes, insistentemente, de seu papel. Uma mensagem de um eleitor pode chacoalhar o comodismo, ividade, cegueira e, eventualmente, falta de retidão de um parlamentar. A sociedade não pode deixar de exigir que deputados e senadores tenham, dentro do Congresso, neste momento histórico, consciência de sua força e de seu papel na defesa do Estado Democrático de Direito.

Como dissemos, não é um caminho fácil e os resultados podem demorar a chegar. Mas é preciso dar o primeiro o e insistir o quanto for necessário. É o futuro do país que está em jogo.