Mas será injusto colocar nas costas do Congresso Nacional toda a responsabilidade pela lentidão. A reforma tributária, por exemplo, caminhava para um consenso entre as propostas da Câmara e do Senado, mas o Legislativo quis esperar a definição de um Executivo oscilante entre apoiar uma das PECs já no Congresso ou enviar proposta própria. Quando o governo finalmente se decidiu, embaralhou completamente a discussão ao fatiar sua proposta em partes, das quais só algumas já foram apresentadas. Quanto à reforma istrativa, se agora ela está parada por omissão de Maia, é preciso lembrar que o texto estava pronto desde o fim de 2019, mas dormiu nas gavetas do Planalto por quase um ano até ser enviado no início de setembro.
Com tanto a ser consertado na forma como o Brasil gera, arrecada e gasta seus recursos, um ano desperdiçado é algo inaceitável. A pandemia atrapalhou as reformas, sem dúvida, pois por algum tempo os esforços de governo e Congresso precisaram se voltar à contenção de seus efeitos sanitários e econômicos, além de a necessidade de distanciamento social ter afetado a dinâmica dos trabalhos legislativos. Mas ela não é explicação para tamanha falta de senso de prioridade. Do Planalto ao Congresso, ando pela articulação entre os poderes, as omissões, a lentidão e a indecisão pesaram muito mais que a Covid-19 para fazer de 2020 um ano de avanços tão escassos.