Outros apoiadores, mais escolarizados e urbanos, veem em Jair Bolsonaro apenas um “anjo vingador” contra o establishment, a máquina, o sistema corrupto, que, apesar de não se mostrar capaz de construir nada de sólido em contraposição – muitos neste grupo já o item –, deve, porém, ser defendido até o fim como a última trincheira da moral e da honestidade no solo pútrido da política de Brasília.

A partir dessas convicções, que pouco têm a ver com a história real de Bolsonaro antes e durante o poder, os entusiastas pelo dia 7 enxergam uma profunda convergência entre os anseios do povo e a pessoa concreta do presidente. Portanto, neste momento crucial, esse povo não se furtaria a seguir a convocação para uma manifestação decisiva a favor do líder que, mais do que constitucionalmente representá-lo, encarnaria a essência mesmo do brasileiro “de bem”, bate com o mesmo coração e tem nas mãos o seu destino: Bolsonaro seria por excelência o defensor do “cidadão honesto”, pois ninguém o compreenderia melhor que o ex-capitão com sangue verde-e-amarelo nos veias.

O problema dessa perspectiva é muito simples: a esmagadora maioria da população não acredita mais, se é que um dia acreditou, que Bolsonaro seja algo além do que mais um político de Brasília, um operador da máquina pública sem outra fonte de credibilidade e autoridade além da qualidade de seus resultados. E os resultados têm sido desastrosos há mais de um ano. Convocar as pessoas a apoiá-lo por valores abstratos, ideológicos, de “liberdade”, “contra o comunismo”, é atribui-lo discursivamente, de volta, uma missão que ele já se mostrou repetidas vezes incapaz – e até bastante desinteressado – em cumprir.

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Ainda assim, não tenho dúvida de que esta será a maior manifestação bolsonarista de todas – e não haverá outra maior. Vai encher quarteirões da Paulista e muito provavelmente superará a manifestação pró-impeachment marcada para o dia 12. Tal feito deve acarretar vitórias parciais no parlamento para o governo, em pautas específicas, e deve sustar por alguns meses a tendência de derretimento da popularidade presidencial.

But that's all! Não haverá golpe, autogolpe, contragolpe e a reeleição se manterá – e sendo percebida pelo Centrão – como inviabilizada. O futuro do Brasil seguirá oscilando entre a concretização de uma terceira via (provavelmente em torno de João Doria) e Lula à esquerda. Com a lenta recuperação econômica, a alta popularidade não voltará e o “gigantesco dia 7” restará como só mais um factoide de um governo cuja agem em nossa história cabe bem naqueles versos shakespearianos:

a walking shadow, a poor player,
That struts and frets his hour upon the stage,
And then is heard no more. It is a tale
Told by an idiot, full of sound and fury,
Signifying nothing.

Guilherme Hobbs é programador web e graduando em Física.

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