No caso brasileiro, vemos, por exemplo, um discurso de aparente irracionalidade de alguns políticos a respeito do funcionamento dos mercados. Ora o mercado é visto como uma entidade inexplicavelmente separada do restante da sociedade e vilanizado, ora a falta dele (a demora, por exemplo, de um acordo com a União Europeia) é que é o problema. Também se fala da política monetária como se a mesma não seguisse regras definidas pelo Conselho Monetário Nacional ao mesmo tempo em que se contemporiza com um modelo de ajuste fiscal em que a receita tributária é que deve crescer para aumentar os gastos públicos, ignorando as evidências científicas.
A lógica dos políticos é a de usar as evidências científicas quando estas lhe convêm. Quando não, o argumento é de que é preciso vontade política ou lutar contra a elite (sempre indefinida). Esse comportamento dos políticos não é nenhuma novidade (sabemos desde muito tempo que a democracia é o menos pior dos regimes, não é?) e é por isto que não faz muito sentido falar em “proteger a democracia punindo quem espalha fake news”. Uma abordagem mais realista foi adotada pelo X (antigo Twitter), com as chamadas “notas da comunidade”. Tal procedimento mostra que a sociedade é capaz de se autorregular, sem a tutela autoritária do Estado. Os políticos não mudarão seu comportamento porque uma lei nova foi criada. Basta lembrar que ninguém acredita mais nas promessas de campanha registradas em cartório por alguns candidatos.
É por isso que nem sempre as aparências enganam. Há mesmo quem acredite em absurdos, mas há também os que pagam um preço muito baixo por acreditar ou fomentar crenças irracionais. A melhor forma de se proteger é se informar com fontes confiáveis. Saber o que é uma fonte confiável é um problema que não se deve terceirizar porque há muito lobo em pele de cordeiro no mercado das crenças. Lembre-se dos nossos exemplos: as evidências são favoráveis à imigração e, além disso, os mais educados (informados) são mais inclinados à desregulamentação do mercado de trabalho.
Claudio D. Shikida é professor de Economia no Ibmec-BH; Ari Francisco de Araujo Jr. é coordenador do curso de Economia no Ibmec-BH.
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