Relatos de uma natureza selvagem, bruta e abandonada por Deus começam a ser feitos, possivelmente para justificar suas interferências, e em seus relatos perigos e selvagerias mostram o estranhamento pelas paisagens luxuriantes e misteriosas.
Nesta dualidade se inicia a conquista do espaço geográfico e a consequente formação da sociedade brasileira, que vai se constituir sem um ado histórico pela inexistência de tradições escritas e legados construtivos como catedrais, pirâmides, aquedutos e estradas, herdadas de épocas anteriores; a busca das raízes baseou-se em traços culturais de portugueses, índios e negros que não eram homogêneos – e nem poderiam ser, pela violência envolvida no processo – que produzem traços mais de divisão do que integração, e onde apenas o próprio território constituiria a base para uma identidade nacional.
Assim amos a valorizar a natureza, como se esta fosse, no chão em que vivemos, nossa própria cultura; dela (ao lado de nossa música) sempre tivemos orgulho. Ser o “celeiro do mundo” graças aos atributos de “em nela se plantando tudo dá” permitiu a implantação de uma indústria fundada no processo rápido e intenso de destruição dos solos, que nunca considerou exatamente o descomo entre a extração e a reposição da fertilidade da terra, e fundamos o desenvolvimento econômico em processos devastadores para o meio ambiente.
Já em 1962, a bióloga norte-americana Rachel Carson alertava para os efeitos e riscos que a utilização extensiva de agrotóxicos e a denominada “revolução verde” nas atividades agropecuárias iriam trazer para o meio ambiente e a própria vida humana na terra.
É preciso lembrar que, dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) definidos em reunião de chefes de Estado e de governo na sede da ONU, pelo menos sete estão diretamente relacionados ao bom cuidado com a natureza: o de número 2, Fome Zero e Agricultura Sustentável, para apoio de pequenos produtores de alimentos e a agricultura familiar; o número 6, Água Potável e Saneamento, para implantação de estratégias de gestão da água que sejam ambientalmente sustentáveis e economicamente benéficas na região hidrográfica alvo; o número 11, Cidades e Comunidades Sustentáveis, para promoção e ampliação das pesquisas, desenvolvendo e implantando produtos e serviços que melhoram o o a espaços comuns verdes; o 12, Consumo e Produção Responsáveis, com desenvolvimento, implementação e divulgação da procedência de produtos, buscando o desenvolvimento da consciência ambiental e social na sociedade; o 13, Ação Contra a Mudança Global do Clima, tentando reduzir emissões associadas às operações para auxiliar a regulação climática; o 14, Vida na Água, fomentando modelos de negócios que eliminam impactos nos ecossistemas oceânicos e colaboram para sua restauração; e, finalmente, o 15, Vida Terrestre, para proteção dos ecossistemas naturais.
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Num momento em que a crescente insustentabilidade da situação mundial, com a plena consciência de que o planeta não pode manter os atuais padrões de extração e consumo de recursos naturais, a degradação ambiental provocada pelo ser humano e as suas consequências sobre o mundo animal e vegetal podem quase ter chegado a um ponto de não retorno, temos um dirigente da área que deseja “ar a boiada”!
Governo, qualquer governo, deveria ter como principal objetivo prover o máximo de bem-estar ao seu povo e garantir o futuro de seu país; a proteção dos biomas seria um dos principais fatores desta missão.
Wanda Camargo é educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil (UniBrasil).