De saída, ela evidencia as dificuldades de alinhar uma resposta ocidental – e não apenas no terreno militar. Se o cancelamento da Rússia no SWIFT já levanta reticências e preocupações entre as autoridades econômicas de alguns aliados transatlânticos, dá para imaginar quão mais complicado seria aplicar esse tipo de sanção à superpotência chinesa, conectada ao mercado mundial por inúmeros vínculos comerciais e financeiros. Brands sugere a seguinte alternativa: no momento em que a máquina de guerra americana tiver de auxiliar os taiwaneses a repelir um ataque inicial do continente, os Estados Unidos poderão recorrer a sanções “mais ou menos” unilaterais, enquanto costuram uma ampla coalizão econômica de guerra, como, por exemplo, a proibição das exportações de semicondutores mais sofisticados, uma ameaça que já foi apresentada aos russos. De outra parte, a velocidade com que essas crises se desenvolvem ensina que nunca é cedo demais para planejar e ensaiar ações militares conjuntas.
Nesse sentido, Estados Unidos e Japão precisam intensificar seus exercícios militares nas ilhas próximas a Taiwan, possíveis bases para rechaçar a frota chinesa. Por último, mas não menos importante, Hal Brands recomenda o posicionamento de maiores contingentes das forças armadas dos Estados Unidos em território taiwanês. Na minha opinião pessoal, a tendência da crise ucraniana será desescalar na direção de algum tipo de toma-lá-dá-cá, com Putin desistindo da invasão em troca da neutralização militar da Ucrânia (uma “finlandização”). Já o futuro de Taiwan, na mira de uma China cada vez mais disposta a reescrever as regras do sistema internacional à imagem e semelhança de seu regime iliberal e fortemente centralizado, me parece bem mais incerto.
Paulo Kramer é cientista político e especialista da Fundação da Liberdade Econômica.