Os indianos, também dotados de uma história milenar, tiveram um ado de colônia que acabou em 1948. Desde então, sua população cresceu e sua economia tem prosperado pelo menos 6% ao ano, graças aos investimentos em transporte e tecnologia. Enquanto o atual desafio da China é manter suas altas taxas de crescimento e evitar a desaceleração, o desafio dos indianos é retirar da miséria cerca de 40% de sua população.

Ao norte da Índia e da China está a Federação Russa, estado herdeiro da União Soviética, que conseguiu a proeza de aumentar sua classe média de 6 milhões para 55 milhões de pessoas entre 2000 e 2008. Possuindo maior número proporcional de pessoas com diploma de nível superior do que os países europeus, os russos efetuaram uma reforma tributária de que nós, brasileiros, tanto precisamos. Foi criado um imposto único com alíquota de 13%, o que tornou a Rússia o segundo ambiente tributário mais atrativo do mundo. O desafio russo está em superar a corrupção endêmica que caracteriza o ambiente de negócios do país. Além desse desafio, os russos precisam reaquecer a economia, que sofreu não apenas com uma recessão, mas também com as sanções econômicas aplicadas ao país de Putin após a anexação da Crimeia, em 2014.

Por fim, temos a África do Sul, cuja indústria química se destaca. O setor de serviços atende principalmente aos turistas que visitam o país, e a infraestrutura sul-africana é de nos fazer inveja. O nó sul-africano é o desemprego, o desaquecimento econômico e a miséria. Cada um dos Brics com seus problemas.

E o Brasil nesse cenário? Bem, temos na China nosso maior cliente: enviamos produtos primários e recebemos manufaturados. Não poderia ser diferente, uma vez que a alta força de trabalho chinesa é uma vantagem, assim como as zonas especiais de exportação daquele país, que auxiliam a internacionalização de suas empresas. Para a Índia, exportamos principalmente óleo bruto de petróleo, óleo de soja e açúcar; e recebemos de lá químicos, inseticidas, medicamentos e alguns manufaturados. Em relação à Rússia, o Brasil envia soja e carnes, e recebe fertilizantes e tecnologias petrolíferas. Para a África do Sul, enviamos tratores e carnes e recebemos alumínio e outros minérios.

Na agenda desse encontro dos Brics estão as questões da Venezuela e da Bolívia, os protestos em Hong Kong, as tensões na Caxemira e o futuro do bloco. As reuniões bilaterais são importantes não só para um melhor relacionamento diplomático, mas também para um melhor relacionamento comercial: chineses e indianos, por exemplo, têm recursos para investir aqui, em especial em nossa infraestrutura – que fica em último lugar no quesito portos e aeroportos. Outro desafio para o Brasil é criar condições para a melhor exportação de seus manufaturados, o que a China fez na década de 1980.

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Muitos produtos industrializados chineses circulam o mundo, e nós temos grande dificuldade em fazer o mesmo. Enquanto na China o governo estimula as exportações com uma legislação pouco burocrática, o Brasil tem mais de 3,6 mil regras aduaneiras. Enquanto os brasileiros trabalham cerca de 2,5 mil horas por ano para pagar tributos, na China são cerca de 240.

Além das lições que o Brasil pode extrair de todos esses dados, um desafio conjunto é o de retomar o protagonismo global do bloco. Com as retrações econômicas do Brasil, da Rússia e da África do Sul, outros acrônimos surgiram. O próprio Jim O’Neill chegou a apostar suas fichas no que chamou de bloco Mint, composto por México, Nigéria, Indonésia e Turquia. Há, também outro ponto que merece destaque: enquanto Bolsonaro é alinhado aos Estados Unidos e a Donald Trump, Vladimir Putin é sua antítese.

Ainda com essa aparente contradição, devemos aproveitar a cúpula realizada em nosso país não apenas para acordos pontuais, mas para semear futuros tratados que abram China, Índia, Rússia e África do Sul a nossos produtos. O negócio é fazer negócio, talkey?

João Alfredo Lopes Nyegray, doutorando em Estratégia, mestre em Internacionalização e especialista em Negócios Internacionais, é professor de Relações Internacionais, Comércio Exterior, istração e Economia na Universidade Positivo.

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