A “fraternidade” da ordem liberal nos deixa indefesos e em desordem. É de surpreender que ordens liberais tardias amem guerras estrangeiras, mas invariavelmente escolham somente aquelas que não mande nenhum deles à luta? Até as chamadas “virtudes marciais”, outrora elogiadas por teóricos políticos liberais, tornaram-se redutíveis a homens vestirem-se como mulheres, correndo rápido para conflitos que podem nos destruir de verdade. Como Power nota, “os homens não são mais encorajados a ser protetivos consigo próprios, com as mulheres e crianças, nem com suas comunidades.” E conclui:
Ao desmantelar o patriarcado, perdemos algumas coisas valiosas: o pai protetor, o homem responsável, a atitude paternalista que exibe cuidado e compaixão, em vez de simplesmente limitar a liberdade. Isso resultou numa sociedade horizontal, competitiva, que serve muito bem ao capitalismo de consumidores, onde não há poder fora do mercado e do Estado. Aqueles que se opõem à injustiça deveriam pensar duas vezes antes de denunciar o patriarcado.
Santo Agostinho, aquele alvo do desprezo antipatriarcal, aquele Padre [ou Pai] da Igreja que com toda probabilidade seria espinafrado por suas opiniões acerca do sexo e da ordem doméstica, na certa concordaria com Nina Power quanto a isso. Na verdade, no mui discutido Livro XIX da Cidade de Deus, ele diz que a própria ordem é inteligível porque é ordenada pelo Pai Eterno, e então o paterfamilias é essencialmente inteligível apenas pela analogia com a direção divina que Deus dá a toda a ordem criada. O Pai eterno dirige a ordem criada pelo próprio Amor, e então um homem, enquanto essencialmente imagem e cópia da paternidade, deve também ordenar as coisas segundo esse amor a Deus e ao próximo: para ser um homem, precisa amar, e ordenar as coisas segundo o que se deve amar, e proteger das coisas destrutivas e desordenadas que se devem odiar. “O homem tem responsabilidade por sua própria casa”, escreve Agostinho em De civitate Dei 19.14 — não só em sua família, senão também na sociedade humana, já que toda sociedade é uma espécie de casa de casas, uma oikonomia [economia, “ordem da casa” em grego] que é conhecedora da ordem da natureza e de sua governança divina.
A paternidade humana é, assim, essencial ao bem comum social e político como uma imagem do cuidado diretivo e protetivo que Deus dá ao dirigir o próprio universo. O que quer que emerja das cinzas da ordem liberal – e rezo fervorosamente para que a ordem liberal não nos reduza a cinzas em sua senectude – irá exigir algo parecido com o chamado de Nina Power para recuperar o “pai protetor, o homem responsável”. Como estou imerso nas dimensões mundanas muito reais dos sacrifícios que isso irá exigir dos homens, também posso atestar que isso é infinitamente melhor para nós abraçar a paternidade essencial do homem do que o patético regime dos “mano” que existe como uma paródia da ordem direita.
Chad Pecknold é teólogo e professor da Catholic University of America. Este texto foi traduzido do Post Liberal Order com autorização.
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