Além disso, Trump suspendeu o envio de fundos para a agência da ONU que auxilia refugiados palestinos e em 2019 cortou totalmente o auxílio anual dos EUA para palestinos nos territórios ocupados da Cisjordânia e Faixa de Gaza – decisões que Biden pretende reverter.

No entanto, analistas não esperam uma mudança muito radical de um governo americano de Biden em relação a Israel. O democrata já afirmou que não pretende mudar a embaixada de volta para Tel Aviv e não deve reverter o reconhecimento da soberania israelense das Colinas de Golã, disse uma autoridade da campanha de Biden pouco antes da eleição.

Durante as primárias democratas, Biden se opôs a iniciativas pró-palestinas defendidas por membros do seu partido. O senador Bernie Sanders propôs segurar ajuda militar americana à Israel caso o governo israelense não moderasse o tratamento dado a palestinos. Biden respondeu dizendo que a proposta era "bizarra".

Biden defende a solução de dois Estados como "o único caminho para a segurança de longo prazo para Israel, enquanto mantém sua identidade como um Estado judeu e democrático", afirmou o presidente eleito ao Council on Foreign Relations. "Essa também é a única maneira de garantir a dignidade palestina e seu interesse legítimo em autodeterminação nacional", afirmou, reconhecendo o desafio representado pela falta de vontade das lideranças israelenses e palestinas de "assumir os riscos políticos necessários para progredir por meio de negociações diretas" – desafio que, segundo ele, foi dificultado pelo "unilateralismo de Trump, ações para cortar a assistência aos palestinos e sua ambiguidade sobre a importância da solução de dois Estados".

Em maio, Biden, assim como democratas do Congresso americano, criticou os planos de Netanyahu de anexar territórios da Cisjordânia. "Eu não apoio a anexação", disse Biden em evento de campanha a membros da comunidade judaico-americana, segundo o site de notícias The Hill. "O fato é, eu irei reverter o enfraquecimento da paz promovido por Trump", afirmou.

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Arábia Saudita

Outro aliado dos EUA na região é a Arábia Saudita. Espera-se que Biden tente limitar a venda de armas americanas para o reino saudita e se distancie dos seus líderes.

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A inteligência dos EUA concluiu que o assassinato em 2018 do jornalista saudita dissidente Jamal Khashoggi, colunista do Washington Post, estava lidado ao príncipe herdeiro da coroa saudita, Mohammed bin Salman. Mas o caso não provocou mudanças na relação entre Washington e Riad.

No começo de outubro, no segundo aniversário da morte do jornalista, Biden prometeu "reavaliar" a relação entre EUA e Arábia Saudita. O então candidato divulgou um comunicado manifestando apoio a dissidentes sauditas e sugerindo que MBS esteve por trás do assassinato de Khashoggi.

"Dois anos atrás, agentes sauditas, supostamente atuando sob direção do príncipe da coroa saudita Mohammed bin Salman, assam e desmembraram o jornalista, dissidente e residente dos EUA Jamal Khashoggi", disse Biden. "A ofensa dele - pela qual pagou com sua vida - foi criticar as políticas do seu governo".

"Sob uma istração Biden-Harris, iremos reavaliar nossa relação com o reino, encerrar o apoio dos EUA para a guerra da Arábia Saudita no Iêmen e garantir que a América não comprometa seus valores para vender armas ou comprar petróleo", afirmou Biden - sem mencionar que as operações de apoio aos sauditas tiveram início na era Obama. "O comprometimento da América aos valores democráticos e direitos humanos será prioridade, mesmo com nossos parceiros de segurança mais próximos", garantiu.

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Turquia

As relações entre EUA e Turquia são, de maneira geral, boas, mas azedaram com a compra pela Turquia do sistema de defesa de mísseis S-400 da Rússia. Os dois países também se desentenderam nos últimos anos sobre políticas relacionadas ao conflito da Síria e a maior proximidade entre a Turquia e a Rússia. Algumas semanas antes das eleições americanas, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan mandou um recado ao país norte-americano:

"Vocês não sabem com quem estão lidando. Imponham de vez suas sanções, quaisquer que elas sejam", disse Erdogan em evento do seu partido, referindo-se às ameaças americanas pela compra do equipamento de defesa russo.

Até o momento, Trump não impôs sanções contra o país aliado da Otan, embora a legislação americana exija que o executivo do país tome medidas de punição contra governos que comprem equipamentos de defesa da Rússia.

Uma autoridade do governo da Turquia disse à Al Jazeera que os comentários talvez tenham sido direcionados a Biden. "As pessoas aqui não estão maravilhadas com a perspectiva [de uma presidência de Biden]", disse a fonte, que pediu anonimato.

Fato é que o Erdogan parabenizou Joe Biden e Kamala Harris na terça-feira (10). Mas com a vitória do democrata, que chamou Erdogan de "autocrata", o líder turco estará menos protegido das críticas e acusações do Congresso americano a respeito de violações de direitos humanos e de normas democráticas.

Ainda assim, analistas esperam que Biden trabalhe com Ancara, ou pelo menos tente, em nome da restauração do compromisso de Washington com suas alianças, principalmente a Otan. "Espero que Biden entre em contato com Erdogan porque a prioridade será ressuscitar a Otan e isso não pode ser feito sem a Turquia", disse Soner Cagaptay, pesquisador do Washington Institute for Near East Policy, à Reuters.

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