Sei que você vai amar, sei que você vai odiar. Principalmente, sei que você não vai ficar indiferente às palavras de Roger Moreira. 2b4h22

Convém informar ao leitor que esta entrevista está sendo feita por e-mail. Só por ser mais conveniente tanto para você quanto para mim. Mas, cá entre nós, entrevista por e-mail também é bom porque impede o jornalista de “desvirtuar o sentido” ou “tirar do contexto” algo que o entrevistado falou, né? Você não confia na imprensa?

Eu confio em você e não acho que você faria isso. Mas muitos outros o fazem. Folha, Veja, Estadão e que tais. É mais a regra do que a exceção. Normalmente o cara vem com a pauta pronta e te entrevista só para ver se você confirma a tese dele. Falar nisso, assisti à entrevista de Woody Allen com o Bial e foi muito ruim. Ele perdeu uma ótima chance de fazer uma entrevista boa com um comediante brilhante para fazer perguntas pedantes que diziam mais sobre Bial do que sobre Allen.

Apesar de você ser uma boa memória da minha infância, não sei muita coisa sobre a sua vida pessoal. Só o básico que todo mundo sabe. E não quero pesquisar para não me “deixar contaminar pelo personagem” (mas vão dizer que é preguiça). Então conta alguma coisa legal da sua vida para a gente, por favor.

Bom, eu acho que não tem nada assim de super especial sobre minha vida que eu já não tenha contado. Nasci em São Paulo e meu pai é de Jacareí. De forma que eu ia muito pra lá, subia em árvores, andava a cavalo, tirava leite de vaca, enfim, tenho intimidade com esse meio. Também ia muito, nas férias, para Santos. Gosto de Santos e de praia. Vivi um ano e meio em San Francisco, na Califórnia, o que influenciou mais ainda a minha iração pelos EUA. Hoje San Francisco está, como sói acontecer, bastante degradada devido a istrações esquerdistas. Mas era um lugar maravilhoso em termos de civilização e cidadania. Considero-me super bem-sucedido já que sempre desejei viver de música e é o que tenho feito desde mais ou menos 1984. Vivo bem, sou casado e tenho duas filhas pequenas.

Toda entrevista tem aquele momento capcioso, em que o entrevistador tenta deixar o entrevistado desconfortável falando de algum desafeto. Então sinta-se à vontade. Quer falar de algum desafeto? O Scandurra, talvez? Ou de algum outro. Se não tiver nenhum desafeto, a gente pode até criar um. Que tal?

Eu não tenho desafetos pessoais. Só coisa de ideologia. Aliás um traço de minha personalidade que meus amigos já aprenderam a reconhecer, mas que causa estranheza em quem me conhece há pouco tempo, é que sou capaz de brigar por um assunto e estar completamente tranquilo sobre o resto. Eu separo as coisas. Tipo, fico puto com uma atitude ou ato específico, mas, acabando aquela discussão, de resto estou de boa com a pessoa. Aprendi muito com o Edgard, mais observando-o do que realmente tomando lições com ele. Ele foi realmente um incentivador no começo, mas nós também lhe demos um emprego remunerado quando o Ira era apenas um projeto. Também não foi ele quem escolheu o nome da banda, como vive dizendo por aí. O Leôspa e eu levamos meses para chegar num consenso. Quando chegamos a Ultraje e eu perguntei ao Scandurra o que ele achava de Ultraje, ele, que não sabia do que conversávamos, disse "Ultraje? Que Ultraje? Ultraje a rigor">