Nas obras culturais exportadas pelos Estados Unidos ao mundo, a relação entre a polícia e a população negra é há décadas retratada como difícil. Os comediantes negros Richard Pryor e Chris Rock, com quase meio século de distância entre suas carreiras, convergem. “Os policiais nos degradam, e as pessoas brancas não acreditam: dizem que estamos resistindo à prisão”, disse Pryor em 1974. “Toda vez que policiais atiram em um homem negro inocente, sempre dizem a mesma coisa: que não são a maioria, que há só algumas maçãs podres. Maçã podre? É um nome lindo para um assassino”, brincou Chris Rock em 2018 no especial Tamborine (Netflix). 6t3f5s

Apesar da importância cultural dada ao conflito com a polícia e ao racismo, no entanto, a pesquisa mostra que esses não são os problemas que mais preocupam os negros americanos. Quando os pesquisadores fizeram uma pergunta aberta sobre qual era o problema mais importante enfrentado pela sua comunidade, 17% disseram que eram violência e crime, 11% questões econômicas, 7% moradia, 6% COVID-19 e saúde e 5% infraestrutura.

Realidade x narrativa 4c642

Mais negros disseram que não podiam apontar um problema na comunidade ou que o problema era só os vizinhos (4%) do que os que disseram que o maior problema de suas comunidades era relacionado a racismo e questões de diversidade e cultura (3%). Ou seja, o racismo ficou em último lugar como principal problema para os negros americanos entrevistados, empatando com problemas relacionados a emprego e salário (3%). É um marcado contraste com as prioridades da indústria cultural e da imprensa americana a respeito do grupo.

Quem deve resolver esses problemas? 65% dos negros americanos pensam que fica a cargo dos líderes locais ou de indivíduos como eles próprios. Só 12% pensam que é responsabilidade do Congresso, e 5% pensam que é do presidente. Este é outro contraste com as discussões raciais que geralmente envolvem alegações de problemas estruturais do país inteiro e giram em torno da figura do presidente dos Estados Unidos. Nessas respostas, os negros americanos se revelam em primeiro lugar americanos: a resposta da população em geral é basicamente a mesma para essa pergunta, comenta o Pew Research Center.

Ênfase na identidade racial pode piorar as coisas 5c1l28

Uma ampla maioria de 76% dos negros americanos considera a raça muito importante (22%) ou extremamente importante (54%) para a sua autoimagem. Há uma menor ênfase na identidade negra entre os negros mais jovens, os negros de origem hispânica, os que votam no partido Republicano e os mestiços: cerca de 60% em cada grupo não acham que sua raça é muito ou extremamente importante.

A própria pesquisa adotou a nova política editorial de escrever negro com letra maiúscula (“Black”), que se espalhou pela imprensa americana após a comoção pela morte de George Floyd. A política para outras identidades raciais pode não ser a mesma. Normalmente a letra maiúscula em adjetivos da língua inglesa é reservada para identidades nacionais (“Brazilian” - brasileiro) e afiliações religiosas (“Christian” - cristão). A adoção de “Black” pode ser uma forma tácita de se dizer que agora, nos Estados Unidos, raça é tão importante quanto nacionalidade e religião.

O orgulho racial, contudo, pode ser uma receita ambígua ou contraproducente. Em um estudo de 2001 publicado na revista científica PNAS, os psicólogos evolucionistas Robert Kurzban, John Tooby e Leda Cosmides fizeram experimentos para testar se as pessoas se classificam automaticamente em raças na ausência de incentivo cultural para tal. Os cientistas concluíram que não: a codificação com a raça é um subproduto de um maquinário mental que surgiu para detectar alianças de grupo. Quando incentivados a se classificarem de outras formas, os indivíduos dão menos importância à raça, podendo até parar de considerá-la totalmente.

“Menos de quatro minutos de exposição a um mundo social alternativo foram suficientes para esvaziar a tendência de categorizar por raça”, comentaram os pesquisadores. “Esses resultados sugerem que o racismo pode ser um constructo volátil e erradicável que persiste apenas enquanto for mantido ativamente pela ligação a sistemas paralelos de aliança social”. Em outras palavras, a ênfase em identidades raciais alimentaria o racismo, e ressaltar outras coalizões (nação, religião, time esportivo etc.) mina o seu poder. Houve uma crise de falha na reprodução de resultados da psicologia nas duas décadas seguintes, mas este estudo sobreviveu à crise e foi replicado com sucesso por cientistas belgas em 2014. Esses resultados vêm da psicologia evolucionista, que é ignorada, quando não demonizada, em grande parte das áreas acadêmicas que estudam identidade racial e racismo.

Mantidos pobres graças a boas intenções x1s5o

Pobreza ainda é um problema que atinge negros desproporcionalmente nos Estados Unidos. O filósofo negro Thomas Sowell pensa que a população negra dos Estados Unidos foi sabotada pelos esforços assistencialistas dos progressistas desde a década de 1960, quando o presidente Lyndon Johnson, que assumiu o cargo após o assassinato de John F. Kennedy, implantou a assim chamada “guerra à pobreza”. Segundo a Heritage Foundation, os Estados Unidos gastaram 22 trilhões de dólares nesse assistencialismo nas cinco décadas que se seguiram à sua implantação: três vezes mais do que gastaram em todas as guerras desde a Revolução Americana. Ainda assim, o efeito sobre a pobreza foi nulo ou limitado.

Depois de décadas de crescimento econômico dos negros na primeira metade do século XX, que tinham níveis similares de casamento e criação conjunta das crianças por pais e mães até os anos 1960, hoje a maioria das crianças negras cresce em lares sem pai, o que é um fator preditivo de comportamento rebelde, criminalidade e pobreza. Em suma, o Estado substituiu o pai. Se mães solteiras pobres tivessem tido suas crianças dentro do casamento e tivessem a ajuda dos pais, dois terços delas teriam sido tiradas da pobreza e atingido a autossuficiência, relata a fundação.

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