A cardiologista Ellen Guimarães, que atua em Goiânia, concorda com o médico americano. “Provavelmente a incidência deste efeito colateral é maior do que a retratada, porque assim está sendo com os dados de miocardite”, diz ela. “Pensando que não há nenhum dado que mostre redução de gravidade [da Covid] para essa faixa etária, é preocupante”.

Para Prasad, “não existe um jeito de pesar o excesso de convulsões contra os ganhos da vacinação” contra Covid em crianças. “Primeiro, não temos a estimativa precisa do risco de convulsão e, segundo, não fazemos ideia de qual é a redução do risco absoluto em más consequências da Covid-19 que conseguimos vacinando crianças com essa idade”. As vacinas da Covid só foram oferecidas para crianças bem depois de testadas em adultos, e os dados para crianças “são de credibilidade muito baixa” e não foram significativos para o uso clínico. “Eu me preocupo que vacinar crianças dessa faixa etária poderiam representar um dano no cômputo final”, conclui o cientista.

A Covid parece ser menos perigosa para crianças saudáveis que a gripe. No calendário de vacinação do PNI não consta a vacina contra gripe entre as obrigatórias. Esta vacina, que possivelmente previne a doença de Alzheimer, também não é obrigatória para adultos.

“A taxa de mortalidade por Covid-19 em pessoas com menos de 14 anos de idade era de apenas 0,03% a 0,1%”, explicou o médico Alessandro Loiola em publicação com grande repercussão no X (Twitter). “Como médico, não posso deixar de manifestar a minha profunda preocupação com a decisão tomada pelo Ministério da Saúde”.

A secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente, Ethel Maciel, defendeu a decisão no site do ministério: “A Covid-19 é uma doença de constante monitoramento, requer atenção e por isso temos fortalecido as ações de prevenção por meio do Movimento Nacional da Vacinação”, disse ela, comparando a doença ao sarampo e coqueluche.

Os Estados Unidos são um caso relativamente isolado de recomendação das vacinas contra Covid para bebês e crianças pequenas no mundo desenvolvido. A maior parte da Europa não segue essa recomendação. Como mostrou a Gazeta do Povo em janeiro, quando a ministra da Saúde Nísia Trindade tomou posse do cargo, sua gestão da pandemia na Fiocruz repetiu os erros dos americanos. A alteração do PNI sugere que o padrão no Ministério da Saúde será o mesmo — porém, no caso dos americanos, é uma recomendação, não uma obrigatoriedade.

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