O CBD, que não tem os efeitos psicoativos relacionados ao uso recreativo da maconha, é usado para tratar doenças neurais com convulsões que começam na infância, propósito para o qual foi aprovado pela istração de Alimentos e Drogas dos EUA (FDA, na sigla em inglês). Seu efeito terapêutico é associado às suas propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. Uma revisão de 2020 sugeriu que o canabidiol é uma droga segura e com poucos efeitos colaterais.

Muitas outras aplicações médicas para o canabidiol foram propostas além do tratamento para diferentes tipos de epilepsia, porém ainda carecem de comprovação. Em 2018, botânicos reclassificaram a grandiúva e seus parentes do gênero Trema como pertencentes à família das canabáceas, com cerca de 170 espécies, que inclui a maconha (Cannabis sativa). Moura Neto e sua equipe da UFRJ informam que não encontraram na grandiúva o tetrahidrocanabinol (THC), molécula que produz os efeitos psicoativos da maconha. O CDB, contudo, pode ser convertido parcialmente em THC a temperaturas altas.

Não é a primeira vez que o CBD é encontrado em uma planta que não é a maconha. Em 2012, quantidades mínimas foram encontradas em sementes de linho. Porém, pesquisadores como o químico italiano Giovanni Appendino suspeitaram, em publicação de 2022, que foi contaminação pelo solo, como já foi mostrado no caso de plantas que se contaminam com nicotina a partir de bitucas de cigarro.

Mais promissora foi a trema oriental, canabácea do mesmo gênero da grandiúva que ocorre na África e no Sudeste Asiático. A planta, também uma árvore de pequeno porte, contém CBD em suas flores — mas junto com THC, como informou uma publicação de 2021. Tanto a trema oriental quanto a grandiúva (com vários outros nomes populares como pau-pólvora, periquiteiro e candiúba) são aplicadas como fitoterápicos tradicionais por povos que habitam sua área de distribuição.

Se a trema oriental serve como base, a equipe da UFRJ terá um desafio pela frente. Appendino e colegas informam que “o conteúdo de CBD era muito baixo” e que a substância não foi achada em todas as três localidades da Tailândia em que a trema foi coletada. Além disso, investigações anteriores da planta há duas décadas não encontraram CBD ou THC.

Uma outra sugestão foi feita de que o lúpulo, planta utilizada na preparação da cerveja, poderia ter canabidiol. Appendino e colegas são taxativos a respeito: “notável exemplo de fraude que vale a pena revisitar para se ter uma boa ideia de como os interesses comerciais em um mercado em grande parte não regulado (...) pode estimular a pseudociência”. Também já foi sugerida a presença de CBD na estévia, a mesma planta da qual é extraído um adoçante popular.

Os cientistas pedem mais estudos a respeito e permanecem céticos, aceitando como único caso de exceção à maconha como fonte de CBD a planta nativa da África do Sul Helichrysum umbraculigerum, uma erva conhecida em inglês como “sombrinha-de-lã” — que não é da família da maconha, mas da família dos crisântemos, margaridas e girassóis.

<em>Helichrysum umbraculigerum</em>, a sombrinha-de-lã da África do Sul. Foto: Jimmy Whatmore/iNaturalist

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