Quando a bola rolou, logo aos dois minutos de jogo, um gol de cabeça do atacante Germán Herrera (ex-Botafogo, Corinthians e Grêmio) colocou o estádio abaixo de tanta euforia. Em vantagem, o Central sustentou o placar até o intervalo. 735w4h

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Mas, no vestiário, Marco Ruben ouviu do técnico Leonardo Fernández que seria substituído. Estava lesionado, com fortes dores causadas por uma distensão muscular intercostal. A questão era como convencer El Gran Capitán a deixar o clássico?

“Ele me pediu por favor para não sair e tomou cinco infiltrações no meio das costas. Terminou o jogo correndo até os 90 minutos. Seguramos o marcador e ganhamos por 1 a 0”, recorda o treinador, em conversa com a Gazeta do Povo.

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“Imagine seu capitão, seu ídolo, sua referência, fazendo algo desse tipo para ficar em campo… O resto do time não poderia mostrar menos empenho”, exalta Fernández, então interino no comando do Rosário.

A atitude não se resumiu ao clássico local. Naquela mesma temporada, a situação se repetiu algumas vezes com o exemplar camisa 9. Mesmo baleado, ele sabia que sua presença era necessária a equipe.

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“Ele ficou levando infiltrações em um monte de jogos para poder jogar — e a gente valorizava isso”, conta Herrera, cria da base dos Canallas, assim como Marco Ruben.

Apesar dos atípicos quatro gols em 23 jogos, a liderança e espírito guerreiro do centroavante, para quem não há bola perdida, conduziram o Rosário Central ao primeiro título de relevância nacional do clube desde 1995.

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Depois de vivenciar dois vices seguidos na Copa Argentina (diante de Boca Juniors e River Plate), o grande capitão tirou um peso das costas com o título, nos pênaltis, frente ao Gimnasia de La Plata.

“Ele fazia o impossível para estar conosco. Graças a Deus, pudemos cumprir nosso sonho de sermos campeões com o Rosario. Na verdade, foi muito graças a ele”, enaltece o amigo Herrera.

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O amor de Marco Ruben pelos Canallas é eterno. Após a conquista inédita, no entanto, ele mesmo percebeu que era hora de mudar de ares.

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Em atrito com o clube por causa da renovação contratual, o delantero confessou que sentiu uma quebra de confiança na relação jogador/diretoria. E que, naquele momento, não haveria volta.

Cobiçado por vários times brasileiros – Grêmio, Internacional e Santos, por exemplo –, o camisa 9 decidiu jogar pelo Furacão após muito charlar com o compatriota Lucho González, jogador da equipe paranaense desde setembro de 2016.

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O convencimento também teve participação importante do então diretor de futebol Rui Costa. Ele foi até a Argentina exclusivamente para mostrar que o lugar certo era o Athletico, dono de uma estrutura bem acima da média e com o melhor calendário do país em 2019.

"A verdade é que, neste momento da minha vida, da minha carreira, estava buscando a ilusión [sonho] como objetivo principal", revelou Ruben, em sua primeira entrevista com a camisa atleticana.

Para vir, ele precisou estender em um ano seu contrato com o time argentino, que colocou um salgado preço para a compra definitiva ao fim da temporada: US$ 1,9 milhão. Os US$ 200 mil pagos pelo empréstimo, por outro lado, certamente foram quitados com gols.

Até aqui, em dez partidas, Ruben já marcou sete vezes, seis delas pela Libertadores. Nesta quarta-feira (22), na Arena da Baixada, o River Plate pode ser outra vítima do goleador – pelos Canallas, são três tentos diante dos Millionarios.

O confronto é a primeira parte da decisão da Recopa Sul-Americana. Os 90 minutos finais serão no Monumental de Núñez, no dia 30 de maio.

"Espero poder dar o exemplo, digamos, dentro e fora de campo pela experiência que vivi no futebol. E através disso, ajudar a equipe", disse Marco Ruben, ainda em janeiro, sem saber que faria muito mais do que isso em tão pouco tempo.

Líder positivo

Além dos gols, o Athletico recebeu um reforço de peso para o vestiário assim que assinou com Marco Ruben. O termo 'líder positivo' foi citado de maneira unânime pelos entrevistados desta reportagem na descrição da personalidade do camisa 9.

"Ele é um líder de grupo, em todos os sentidos, muito positivo. Não é desses que lidera pela presença, pela forma de ser. É uma pessoa muito paciente, tranquila", atesta o atacante César Delgado, formado no Central e com agens por Lyon, da França, e Cruz Azul e Monterrey, do México, no currículo.

"Como jogador, é um atacante completo, moderno. E ele lidera pela entrega, por demonstrar que não existe bola perdida", concorda o ex-zagueiro Mauro Cetto, atualmente dirigente do Rosário.

"Marco é um grande profissional e um líder que gosta de unir o grupo, que tem uma boa relação com os companheiros, gosta de organizar encontros para que o grupo se fortaleça. Também é um grande assador", elogia o ex-lateral Paulo Ferrari, companheiro tanto no Rosário quanto no River, citando as qualidades de churrasqueiro do centroavante.

Fora de campo, El Gran Capitán é descrito como caseiro. Alguém que aprecia os momentos ao lado da família e amigos, sempre preparando um assado de tira, tomando um mate ou um bom vinho, preferencialmente ao som de folclore (ritmo musical argentino). Pescar no Rio Paraná é outro hobby do artilheiro, pai de um casal: Léo e Sara.

Avesso às redes sociais, Ruben prefere manter sua privacidade; foge da badalação. Recentemente, quando perguntado pelo lateral-direito Jonathan qual o motivo de não ter uma conta no Instagram, ele simplesmente retrucou: "Não gosto".

Ao mesmo tempo, não é tímido. Teve coragem, por exemplo, de ir a um programa de televisão em Buenos Aires para fazer um tradicional recital (assista abaixo). Se precisar, ainda canta e toca violão (confira aqui).

Pé na estrada

Viajar 1.700 km de carro, entre Rosário e Curitiba, também não é problema. Foi assim quando fechou com o Furacão, fato inusitado que acabou adiando sua apresentação no clube. "Loucura. É bem a cara do Marco", brinca Delgado.

Comportamento raro na safra atual de boleiros. Marco Ruben é goleador raiz, que dá de ombros para o rosto rasgado e marca três gols contra o Boca Juniors, demonstrando de todo seu potencial na hora que o time mais precisa.

“É um vencedor. Há poucos goleadores como ele no futebol sul-americano”, garante o técnico boliviano Alvaro Peña, que conviveu com Ruben na época do Dínamo de Kiev, da Ucrânia, onde o argentino atuou entre 2012 a 2015.

“Tenho certeza que ele vai ser artilheiro da Libertadores pela capacidade, personalidade e faro de gol que tem. Ele se encaixa perfeitamente ao estilo do Athletico”, emenda Peña, que reviu o amigo – e mais novo ídolo da torcida atleticana – na viagem do Furacão a Cochabamba, mês ado.